MISTÉRIOS ENVOLVEM O AMOR ENTRE UM HOMEM E UMA MULHER

O amor entre um homem e uma mulher é uma das experiências mais fascinantes e misteriosas no cenário das relações humanas afetivas.

Não é à toa que o povo diz que casamento é loteria. Isto significa que é preciso ter muita sorte para formar o par certo.

A jornada a dois contém surpresas, armadilhas, muitos desafios para manter a união saudável e estimulante para os dois.

A vida como ela é, desgastante, exige de cada um de nós uma capacidade de observação, imaginação e de atenção para a qual nem sempre estamos preparados. Por isso, o amor sempre nos parecerá estranho e secreto.

Por isso, já não deveríamos nos surpreender com as histórias que ouvimos. Mas isso não acontece porque precisamos de histórias com que nos entreter e essa é a razão do sucesso das novelas da TV.

Havia uma mulher que enviuvara. Perdera seu companheiro e a maneira que encontrara para sentir-se perto dele era visitar seu túmulo com regularidade e cuidar para que o jazigo sempre estivesse limpo e florido.

Seu companheiro havia ido embora de repente, num período em que os dois estavam muito felizes, se completavam no amor, nos gostos e na maneira divertida de encarar os fatos do dia a dia. Tornaram-se, na verdade, coniventes em tudo.

Já tinham entrado na meia-idade, mas mantinham o mesmo ardor e a sensualidade que cabe a um casal de amantes e ambos se sentiam exuberantes e capazes de seguirem adiante por muitos anos. Mas um dia a vida romântica e satisfatória se interrompeu para ambos.

A morte do marido tirou a mulher do eixo, com direito a depressão, algumas doenças nervosas, ansiedade e uma amarga sensação de que o caminho à frente havia sido levando por uma torrente de verão.

Prosseguiu sua vida em solidão, mas mantinha uma relação com a memória do seu esposo. E ela estava sempre ali, duas ou três vezes por semana, para cuidar da sepultura onde havia apenas os despojos do marido. Nada importava, ele merecia aquela santa devoção. “Conversava” com ele em voz baixa.

Coincidentemente, bem perto dali, havia um homem que, como ela, cuidava com semelhante zelo de uma sepultura. A certa altura começaram a se cumprimentar: Bom-dia, boa tarde…

Curioso, quis saber quem estava ali e ela respondeu com os olhos lacrimosos. Ele também tomou a iniciativa de informá-la que vinha “visitar” sua mulher, que o deixara só no mundo afundado na maior tristeza e solidão.

Assim, se tornaram conhecidos, até que um dia ela foi convidada para tomar um café. Convite aceito. Conversaram sobre a vida e o destino similar que ambos tiveram. Falaram do passado, dos sonhos que haviam acalentado e da situação comum que os levaram a se conhecerem no cemitério.

Depois foram almoçar juntos e parece que, sem saber, aquela amizade inicial estava seguindo um caminho um pouco além da recíproca solidariedade.

Um mês depois da primeira conversa, foram jantar e ambos revelavam uma aparência mais amena com um esboços de alegria contida e foi exatamente nesse jantar que ela ganhou o primeiro presente: uma corrente de ouro com um pequeno crucifixo de ametista.

Surpresa, “imagine, não precisava isso”. Mas ele, cavalheiro, pediu que ela o deixasse colocar a joia em seu pescoço. O que foi feito carinhosamente.

A partir dessa noite passaram a se frequentar em casa, ora de um ora de outro, até que perceberam que estavam apaixonados. Os jazigos jamais voltaram a ficar limpos e floridos como antes. (C.R.) 

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.