TEMPO DE MUDAR – ATITUDES ÁSPERAS DESUMANIZAM AS RELAÇÕES SOCIAIS E PREJUDICAM A COOPERAÇÃO

Desculpem, mas a aspereza que permeia as relações entre as autoridades públicas e a população é fruto da incompetência e limitação crônica no campo da expressividade. Bato na mesma tecla há anos e vejo pouco progresso nesse setor vital para que a comunicação cumpra seu papel de contribuir para evolução das relações humanas. Isso acontece notoriamente também no município de Ibiúna.

O resultado é que se vê e se lê: uma pobreza expressiva descomunal provocando situações lamentáveis. A falta de sabedoria em lidar com inteligência e conhecimento adequados se estampa sintomaticamente nos pequenos cartazes colado em vidros próximos a guichês de atendimento: ‘desacatar autoridade é crime’.

Como habilidade insuficiente – comunicar-se com eficácia se aprende, assim como se aprende a ler e escrever e sempre é preciso cultivar isso como hábito continuado e renovado – as pessoas usam os recursos culturais de que dispõem e, frequentemente, se comportam com uma agressividade inconveniente. Com isso, produzem reações de rancor que podem ficar ocultas fritando dentro das cabeças.

Onde terminam as palavras, instrumentos do entendimento, começam os transtornos e desconfortos mentais. Se gritam, desprezam, ofendem, até mesmo com olhares e esgares autoritários, aí surge a necessidade de lidar com os efeitos constrangedores.

Por se encontrarem inseguros, os indivíduos tendem a explodir (lançar para fora) ou a implodir (ter reações internas perturbadoras). Já viram o que acontece quando um ovo é posto a cozinhar na água? Se a água acaba e a panela prossegue no fogo, o ovo simplesmente explode, depois de resistir “bravamente” a uma quentura extraordinária e contínua, que se intensifica à medida que a água deixa de participar das relações entre água, calor e ovo.

Psicossocialmente, as pessoas maltratadas “adoecem” diante de ofensas e reprimendas, pois se sentem desrespeitadas em seu senso de dignidade, com exceção daquelas [na linguagem freudiana, tenham superego zerado, ou quase inexistente, pessoas que podem ser portadoras de um sentimento de desprezo pelo que os outros pensam e falem. Mas, digamos assim, um ser humano normalmente pode ficar estremecido seriamente com ofensas recebidas.

Esse panorama nos ambientes familiares e de trabalho indica que a civilização humana ainda se encontra na idade da pedra lascada no processo de desenvolvimento civilizatório e de reciprocidade socioafetiva.

Resumindo a ópera: aqueles que têm poder sempre que podem e não veem riscos ou ameaças podem “pisar” sutil ou ostensivamente na cabeça daqueles que são considerados pertencentes a uma “espécie inferior”. É a triste realidade desumanizadora.

Resumindo. É preciso saber que todos estamos no mesmo barco da ignorância, uns querendo tirar vantagem de cada situação, preocupados com o próprio umbigo, se lixando com os outros, desde que tenham garantido para si o conforto e luxo que o dinheiro proporciona. O resto, como diria Shakespeare, é o “silêncio”. Sim, aos poderosos é preciso que o silêncio seja mantido, a fim de que consigam manter-se no comando e tirar proveito levar vantagem sempre, agindo com cinismo e falsidade. Daí que a transparência fica oculta dentro de uma redoma opaca.

Manter os outros na ignorância pressupõe agir de modo ríspido como se houvesse o desejo oculto de bater a porta na cara dos outros e mantendo-os a distância, como se esse procedimento não estivesse destinado ao malogro de quem o pratica. É preciso que a sociedade desperte do transe hipnótico que faz com que ajamos com estupidez.

Os responsáveis pelas instituições públicas que ocupam funções nos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário e os representantes da sociedade civil devem assumir hic et nunc um compromisso visando humanizar as relações, antes que o odor nauseante dos maus hábitos penetre nas almas e provoque distúrbios sociais de grandes proporções, como sismos e furacões que estremecem a Terra. (Carlos Rossini)

 

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *