ARTIGO – VIVEMOS ENTRE A BARBÁRIE E A CIVILIZAÇÃO

Outro título para este artigo poderia ser: Entre o Inferno e o Céu, considerando a declaração que teria sido feita pelo papa Francisco no dia 29 de março, três dias antes da Páscoa, ao jornalista Eugênio Scalfari, 93, fundador do jornal italiano La Repubblica, e próximo do papa há anos.

Depois de uma entrevista ou conversa reservada Scalfari, que é ateu, estampou em seu jornal: “Papa nega a existência do Inferno”.

O Vaticano prontamente negou a notícia anunciando que a frase atribuída ao Papa não era “uma transcrição fiel das palavras do Santo Padre”.

A ação rápida do Vaticano evitou outros desdobramentos indesejáveis, pois se a informação fosse confirmada poderia ter sérias implicações em relação à doutrina cristã.

Uma das indagações possíveis seria: se não existe o Inferno, o Céu também não existe? Daí por diante poderia haver graves repercussões clericais e no meio dos milhões de fiéis espalhados pelo mundo.

Voltemos, então, para o nosso título. É provável que o “inferno” realmente não exista, senão na cabeça das pessoas e não em um lugar específico no Cosmos. O Céu lá em cima, o Inferno nas profundezas da Terra, ardendo em chamas e cheirando a enxofre.

Permitimo-nos inferir que há pessoas infernais e diabólicas, a partir do que ocorre em suas mentes, sobretudo nas camadas mais profundas e ocultas, que alguns chamam de trevosas, lugares em que nada pode ser visto exatamente pela escuridão de breu.

Entendemos que a condição de animalesca do homem o torna refém, nos mais variados graus e intensidades, de atitudes loucas, doentias, bárbaras, destrutivas, assassinas, que promanam de sua animalidade incivil, involuída ou estagnada como um pântano terrivelmente asqueroso.

Por outro lado, há humanos evoluídos, civilizados, afortunados, socializados, digamos aculturados para os bons hábitos e costumes, incapazes de cometer delitos graves, como torturar e matar alguém, por exemplo. Pessoas equilibradas, bem resolvidas, que cultivam o amor como forma de relacionamento consigo mesmas e com os outros. Em suma, pessoas que têm o “Céu” em suas mentes.

Então, o que acontece no mundo não passaria de mera projeção de mentes bárbaras: guerras, pedofilia, estupros, assassinatos, torturas em situações singulares ou envolvendo agrupamentos humanos [lançar gás venenoso contra pessoas inocentes, incluindo crianças, como ocorreu na Síria, é um exemplo], em suma todas as formas de violência que assolam nosso Planeta.

Francisco, um papa que merece toda admiração e respeito da humanidade, pessoalmente não desmentiu o que publicou La Reppublica. Talvez tenha nos dado uma oportunidade ou terá sido Scalfari, o vetusto jornalista italiano? (Carlos Rossini)

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

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