CRÔNICA DE UM AMOR SUBLIME

Ao ouvir “Clair de Lune”, Debussy, sinto que você está bem perto de mim. Talvez mesmo dentro do meu coração, da minha alma. Sentimentos intensos de amor, alegria e êxtase. Porque estou só e em silêncio. Sou apenas isso e a música sublime e a imagem de uma mulher como num sonho acordado.

Sinto o seu cheiro, perfume íntimo, prazeroso. Sua pele cálida, clara e lisa e esse olhar verde, lábios róseos, e os toques corporais sem que o mundo exista, além de nós. O segredo é isso, indescritível. Prazer. Doçura. Maciez. Suavidade. Calma. O suor químico.

A sabedoria imanente do corpo. Dois organismos. A combinação sem palavras, poesia concreta em forma de ternura e carícia recíprocas. Essa energia poderosa nos unindo, nos tornando um. Um mais um, igual a um. Nós um. Tudo é belo e a pequena luz generosa como convém a um casal confiante. Paz.

As águas transparentes do mar rebentam se espalham e lambem a areia branca, deslizando em espumas flutuantes. Alegria. Encantamento. As estrelas piscantes salpicam o firmamento. A lua rosa. Rosa? O desejo de dançar na madrugada. Talvez gritar para o Cosmos ouvir. “Ei, estamos aqui!”

Brincar, rir, sonhar, imaginar as ondas de calor e do mar. O clímax. Oh! Isso é muito bom! Sumimos, voláteis, como anjos leves flutuando no espaço. Riqueza é isso. É isso. O amor. Ah, o amor! Brindemo-lo, juntos, unidos. Eu e tu. Nós. Um. De novo. Essa força vigorosamente sensual. Hidrogênio. Fogo. Explosão. Silêncio. Madrugada.

Música, música. Leve como uma pluma bailarina, soprada pelo vento. Rodopiando em círculo. O sol e a lua se procurando. Fugindo um do outro? Dois amantes celestiais. É noite aqui, é dia ali. As flores dançam, como as folhas, colorindo, vibrando, naturalizando. Como nos encontramos? Como foi o início? Desde o princípio a caminhada passando por muitas trilhas, descidas e subidas. Peregrinos. As montanhas se avistam a distância. Aglomerados tons azuis vistos ao longo da costa. Os pássaros deixando seus ninhos e voltando a eles na hora em que seu relógio interno os guie por secretos mandamentos.

O ruído da cachoeira ao longe e o apito do trem atravessando o espelho da água, reproduzindo um luar levemente trêmulo. A vibração do movimento. A floresta colorida e seus ruídos e cantos. Onde os pensamentos, as imagens, a loucura, o equilíbrio, as palavras.

Essa é a riqueza original, antes das grandes mudanças e da proto-história. O príncipe, a princesa, o casamento e o reino feliz. Cadê as raízes da insanidade, dos tormentos da alma, se estamos assim serenidade? Clareza, tranquilidade meditativa, relaxante. Você é você? Quem é? Pode responder? Felicidade. Paz, segurança, bem-estar. É isso? Pegue são seus de direito. Avisados estão. Há tempo e espaço.

E assim prosperamos em nossa liberdade mútua e rimos, até damos gargalhadas, porque é assim que tem que ser. Lembra do passado e do futuro, também se recorda? Viva. Liberdade é presente para os amantes da vida. (C.R.)

 

 

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

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