PAÍS EM COLAPSO – GOVERNO FRACO E IMPOPULAR GEROU A MANIFESTAÇÃO DOS CAMINHONEIROS

MANIFESTAÇÕES como as que estão em curso neste momento em todo o País [pela redução do preço do diesel] somente prosperam, isso é visível ao longo da História, quando os governantes são fracos e impopulares.

Michel Temer se encaixa nessas pré-condições, já que as medidas adotadas pelo seu governo são tão nefastas quanto impopulares. Sua reprovação perante a opinião pública brasileira é uma das piores de todos os tempos.

As primeiras medidas que anunciou têm caráter repressivo e não dão margem, aparentemente, a nenhum tipo de negociação inteligente que possa superar essa grave crise que atinge toda a cadeia produtiva, assim como a prestação de serviços, incluindo severamente o setor de saúde [medicamentos, socorro médico, etc.] já desmilinguido e cronicamente insatisfatório.

O evidente apoio que a categoria vem recebendo da população também denuncia que há uma identidade social com o movimento cujo significado evoca o alto grau de insatisfação não apenas ao setor de combustíveis mas o amplo espectro do peso brutal dos impostos cobrados pelo governo que inviabilizam o surgimento de uma economia sistêmica saudável. Mas é oportuno lembrar, a propósito, dos cerca de 14 milhões de desempregados.

Somente um novo governo eleito pelo povo poderá, agindo com sabedoria e responsabilidade [difícil, mas possível] poderá ter moral sustentável para contar com o apoio e engajamento da nação, medida que precisa ser adotada como prioritária e no início do mandato, pois sempre se está sujeito a desgaste ético como faz parte da tradição política brasileira.

LEI DE GERSON E PÂNICO

Os fatos relatados pela imprensa ou testemunhados diretamente revelam um mal considerável na cultura popular e refletem dois fenômenos de insegurança social: a lei de Gerson e o pânico que toma conta de um número considerável de pessoas.

Um pouco antes de irromper o movimento nas estradas, circulou a notícia que o preço dos combustíveis ia baixar. A primeira atitude dos proprietários de redes e postos de combustíveis foi aumentar os preços imediatamente.

A ideia preventiva era assegurar ganhos, prevenindo perdas. Se houvesse 10% de redução, por exemplo, no preço da gasolina, e esse percentual fosse aplicado, a redução manteria a base de receita elevada. Quiseram levar vantagem!

Mas houve, em seguida, notórios abusos e exploração, como acontecem nas guerras, nos preços de mercadorias em geral, a começar pela própria gasolina que, em alguns locais, chegou a custar algo em torno de R$ 10,00 o litro, como ocorreu no Distrito Federal, Mato Grosso e Recife. O desabastecimento gera a exploração.

O quilo da batata comercializado na Ceagesp, em São Paulo, o maior entreposto da América Latina, e de outros produtos foram às alturas, mas, mesmo assim, esses produtos perecíveis acabaram e não foram repostos.

A insana procura por abastecimento dos veículos fez com que os combustíveis tivessem fim rapidamente. Houve locais em que a polícia teve que interferir pelos conflitos gerados entre os consumidores que tentavam furar as filas quilométricas.

Um país [Brasil] com dimensões continentais, que depende de 61% dos transportes rodoviários para movimentar os produtos e que investiu um valor irrisório em ferrovias, ficará sempre dependente de colapsos dessa natureza. Mas é bom frisar que milhares de quilômetros das estradas brasileiras são esburacadas, mal conservadas, quando não são de terra batida que formam atoleiros absurdos nas épocas de chuvas.

Também estão sendo decisivos as redes sociais e o uso do whatsapp que mantêm um serviço rápido e eficiente de comunicação entre os manifestantes. Assim, tão logo o governo federal anunciou a intervenção de uso da Força Nacional para desfazer os bloqueios, manifestantes reagiam de modo enfático: “Já que o governo abriu guerra contra nós, nós declaramos guerra ao governo!”

Como o processo está em andamento, e a sociedade cada vez mais aflita, por justa razão, é preciso talento e boas ideias para equacionar esse enfrentamento que está surpreendendo o mundo. O problema, então, aparentemente, está nas mãos de um governo míope, desde o início. (Carlos Rossini, editor de vitrine online)

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *