FESTA DE SÃO SEBASTIÃO – À ESPERA DE UM MILAGRE

NESSES ANOS em que reporto a quase secular festa de São Sebastião – protetor de Ibiúna –, entrevistei pessoas de todas as idades. Senti de perto a amorosa devoção pelo santo de milhares de fiéis, numa tocante manifestação de renovada fé.

Há um evidente encantamento quando passam os andores de São Sebastião e do Divino Espírito Santo e muitos fazem pedidos de graças: por uma cura, um emprego, a reconquista de um amor, paz de espírito, a solução de um problema intricado, pela saúde; enfim, pelas necessidades que fazem parte da vida de cada um.

Já fotografei crianças vestidas de anjos, grupos familiares, namorados, idosos sorridentes e felizes, amigos que fazem poses divertidas, cavaleiros e cavalos e charretes debruados de enfeites coloridos, a imagem do santo decorada sempre para surpreender e maravilhar os fiéis, bandas, padres, grupos de ciclistas, muitos olhos brilhantes e até um drone sobrevoando a praça da Matriz para registrar os acontecimentos do alto.

Já ouvi testemunhos de cura, de graça alcançada de acordo com a fé de cada um e voto de fidelidade eterna ao santo conhecido como protetor contra pestes e doenças em geral, cujo corpo aparece perfurado de setas e uma expressão de dor recolhida por Nossa Senhora e transformada em prece e poemas de amor maternal.

Já estive no bairro do Pocinho, na capela do santo, desci em solidão até a gruta encravada no fim de uma descida escorregadia devido à superfície da terra úmida de limbo, pois o lugar fica numa floresta no sertão. Desci impulsionado por uma paixão de ver, ouvi urros de onças perto, e, lá, no fundo onde há um córrego de águas limpas, a pequena imagem de São Sebastião, como se fosse o guardião da natureza. A volta foi custosa, depois de um tumulto mental imprevisto, o ar rareou dentro de mim e foi lenta minha subida até retornar à capela onde me aguardava minha mulher, preocupada porque ouvira dizer que havia onças e caçadores na área. Mas não houve incidente algum. Quando cheguei senti uma paz encher e tranquilizar meu coração.

Por esses dias, ouvi pessoas sobre esta nova, a nonagésima nona festa em louvor a São Sebastião e percebi de modo sutil que muitas estão à espera de um milagre: que o país se livre da corrupção; que as febres sejam repelidas do povo; que haja em vez da doença, saúde; que a paz banhe todos e abrande as almas conturbadas; que haja mais segurança, empregos; que a luz da esperança se esparrame e cubra todos com um manto sagrado; que os homens públicos de Ibiúna encontrem o caminho das boas realizações especialmente no campo da saúde, mas também em outros setores tão importantes para tornar a vida da população mais satisfatória, confiante e próspera.

Em suma, parece grande a esperança de que, enfim, o milagre aconteça e que possam dizer em uma só voz: Amém!

Carlos Rossini é editor da revista vitrine online.

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

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