LEITURA DE DOMINGO – IBIÚNA, MEU AMOR

Sei que Ibiúna está doida, queixosa, mas muitas pessoas, no entanto, não a veem assim. Digo isto porque sinto a população e “ouço” sua alma, conversando aqui e ali com os cidadãos da roça e da cidade.

Há duas razões pelas quais tento interpretar esse clima. Uma é reflexo da nefasta situação política e econômica do país empobrecido de espírito por um lamaçal da corrupção e de suas consequências desastrosas para a população. Outra é devida a causas locais. Estas, por fazerem parte de nossa intimidade, precisamos tratá-las de modo prioritário, em tudo o que for possível.

Isto, em síntese, requer ações conjuntas entre as autoridades públicas e o povo considerado sua eloquente diversidade. Difícil, no entanto, é satisfazer a todos de modo satisfatório e equânime, embora essa seja a peculiaridade da democracia.

Assim como acontece com as pessoas cujas aparências se transformam com o tempo [viu como estão seus amigos do tempos escolares?], uma cidade será diferente, inevitavelmente, do que é agora. E isso independe da vontade humana, pois há uma lei natural de que a mudança é constante, ainda que mal percebida no dia a dia.

Anteu, um gigante mitológico, extremamente forte e poderoso, quase invencível, perdia sua força quando estava com os pés fora da terra. Por isso, foi vencido por Hércules, que o agarrando, o elevou no ar, tirando-lhe assim a força.

Resumindo, quando nos separamos de nossas autênticas raízes, perdemos o fundamento que serve de alicerce poderoso para nossos pensamentos e ações e, assim, em vez de contribuir para a construção e reconstrução da cidade, por isso aqui – e evocamos tanto as autoridades gestoras quanto a população em geral – lembramos que a primeira obrigação dos cidadãos é amar e manifestar na prática o amor a nossa cidade.

O amor é um poder, energia pura, que, de alguma forma, tem mantido a existência da humanidade e um excepcional inspirador de atitudes biofílicas [força da vida] e não necrofílicas [força da morte]. Estenda-se, aqui, a morte desde as atitudes negativas mínimas nas relações interpessoais, baseadas em valores éticos positivos, e não a falência física do corpo.

Os conflitos, ao longo da história, sempre requereram sabedoria, experiência e maturidade para serem superados. Salomão, um personagem bíblico, ficou famoso por governar com sabedoria; o mesmo aconteceu com Sancho Pança, escudeiro fiel de Dom Quixote de La Mancha, que “ganhou” uma ilha para governar e acabou fugindo do local, “desenraizando-se” por não suportar a pressão popular, que lhe incutiu um medo aterrador. Pança se tornou um sábio, mas fora do espaço e do tempo reais. Sua percepção era fantástica.

Por isso, é essencial que se ame verdadeiramente nossa cidade e se acredite que a contribuição – e não o afastamento, o silêncio mordaz e o rancor – de cada um, com coragem e confiança.

O poder soberano é do povo e quanto mais este se torne consciente e responsável e aja com amor, a cidade se tornará mais saudável e menos insana. Amemos Ibiúna como a casa onde todos moramos e compartilhemos esse amor que é, por excelência, guia das boas práticas sociais. (Carlos Rossini é editor de vitrine online)

 

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

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