LINGUAGEM SONORA – OS NAVIOS CONVERSAM ENTRE SI POR MEIO DE APITOS

Navios vêm e vão, numa ampla avenida líquida de águas irrequietas, de e para o mundo. Estou aqui no meu observatório diante do canal do Porto de Santos, uma janela no décimo sétimo andar de um prédio. É fascinante vê-los passar com seus apitos característicos de uma vista privilegiada das águas do Atlântico que banham a orla de uma das cidades mais antigas do Brasil.

Fundada em 26 de janeiro de 1546, portanto há quatrocentos e setenta e dois anos, Santos tem marcas da história do Brasil por todos os lugares, a começar pela Santa Casa de Todos os Santos [fundada em 1543] e que seria a origem do nome da cidade.

O local da fundação de Santos é o outeiro de Santa Catarina, no centro da cidade, por Brás Cubas, que chegara de Portugal em 1532 com Martim Afonso de Souza, donatário da Capitania de São Vicente, nomes que aparecem obrigatoriamente nos livros da História do Brasil.

Em 1546, Santos foi elevada à categoria de vila e, em 26 de janeiro de 1839 passou a ser cidade, um município com 435.000 habitantes fixos e uma população flutuante de visitantes e turistas de muitos milhares de pessoas por ano.

Sede da Região Metropolitana da Baixada Santista, sua dinâmica economia está diretamente ligada às atividades do Porto – o maior da América Latina e responsável por 1/3 de todas as trocas comerciais feitas pelo Brasil com o Exterior –, ao lado do turismo [com imenso número de atrações], da pesca e do comércio.

APITOS DOS NAVIOS

Como menino aberto a novidades, a cada apito corro para a janela para ver  o que majestosamente vai passar auxiliado pelas embarcações dos práticos, que guiam as saídas e entradas dessas belonaves de diferentes bandeiras e cores envoltas pelo fascínio de suas missões que se cumprem com a travessia dos mares e oceanos.

Descobri hoje que os apitos dos navios não são meros apitos, mas uma linguagem bem definida por código internacional. Na verdade, os comandantes, dos altos de suas cabines, conversam com outras embarcações por meio de apitos que variam conforme as mensagens transmitidas.

Assim, por exemplo: “Estou guinando para boreste. Minhas máquinas estão trabalhando à ré. Não compreendo suas intenções. Estou seguindo a boreste ou bombordo”. E assim por diante.

Em suma, os apitos expressam as ações das manobras, as advertências, condições de visibilidade (condições adversas para a navegabilidade), tudo dentro de regulamento que rege o tráfego de navios de todos os portos mundo afora.

Esse conhecimento superficial que adquiri aumentou ainda mais meu fascínio pelos navios que, desde a Antiguidade mais remota, em formas toscas e primitivas, em geral de pequeno porte, deram origem aos gigantescos navios transportadores de mercadorias ou para uso turístico.

Sem eles, que possibilitaram a descoberta de novos continentes e a criação de novos países, como a descoberta do Brasil em 1500, a humanidade ainda estaria limitada ao Velho Continente, para nós ocidentais, mas isso já é outra história. (Carlos Rossini é editor de vitrine online)

 

 

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *