IBIÚNA – ONDE ESTÁ O CORAÇÃO DA NOSSA CIDADE?

A letra era miudinha, tímida, mas escondia alguma coisa importante. Peguei a folha de respostas fui até a jovenzinha muito simpática e pedi para que ela decifrasse uma palavra que vinha antes de uma preposição e do substantivo cidade.

“É coração” – a jovem esclareceu.

Pude, então, completar e entender o que estava escrito: “…o coração da cidade”. Referia-se exatamente à cidade de Ibiúna.

Na hora fiquei satisfeito com o esclarecimento, mas quando cheguei a minha casa e me pus a ler o que haviam escrito todas as demais pessoas, reencontrei o “coração da cidade”, escrito com a pureza de uma alma ainda tímida, mas transparente e luminosa.

Senti-me emocionado com essa possibilidade de nossa cidade ter um coração! No texto, a adolescente faz uma precisa localização de onde ele se encontra pulsando.

Como é proveitoso ouvir os outros – suas ideias, pensamentos, sentimentos, observações subjetivas; enfim, as outras pessoas se refletem em seus comportamentos verbais e podem lançar preciosidades tão simples e verdadeiras.

Pode uma cidade viver sem um coração?

Minha resposta é: não! O coração simboliza o que talvez seja mais precioso para a existência das pessoas e das cidades que, no fundo são formadas por pessoas, pois sem elas estaremos em um deserto. Ele é a sede das emoções por sua intimíssima relação com as nossas mentes.

Leve a mente um susto e o coração dispara. Tranquilize a mente, e o coração volta ao seu compasso harmonioso! Corações e mentes sustentam, junto com os demais órgãos do corpo, claro, a nossa vida.

A frase da menina foi escrita exatamente quando sua mente estava leve, limpa, clara, verdadeira. Terá nascido de sua essência mais profunda, para nos lembrar – santa juventude! – que uma cidade, feita de pessoas, deve mesmo ter um coração, capaz de inspirar a solidariedade, a cumplicidade, o amor ao próximo, o respeito, sem o qual a convivência pode ficar contaminada por maus hábitos.

Pois bem! Fiquei me perguntando onde está o coração de nossa cidade, que, como coração, precisa de um lugar, como o centro do nosso peito, no caso dos seres humanos. Sim o coração de uma cidade existe, mas pode não ser percebido pelos cidadãos entretidos com a luta diária pela sobrevivência.

Primeiro, desafio você leitor, a me dizer onde está o coração de Ibiúna, ou, se preferir, onde deveria estar, uma vez que pode não estar sendo percebido. Quando o coração funciona normalmente, não é lembrado, mas quando sacode querendo sair pela boca ou quando seus batimentos se alteram ou ameaçam parar, logo nos damos conta de sua importância para a vida. O coração é o símbolo de nossa humanidade!

Ninguém pode ser feliz numa cidade “sem coração”, isto equivale a dizer que nenhuma pessoa pode ser feliz se estiver com o coração ferido, doente, triste, desesperançado, magoado, reprimido, constrangido, apertado dentro do peito.

Quando o coração de uma cidade está pulsando livremente, há bem-estar, alegria, confiança, esperança, ânimo, cortesia, educação, segurança, e os cidadãos dormem, despertam, vão para o trabalho como o Sol que se levanta cedo porque tem uma missão cósmica a cumprir: iluminar e aquecer toda a existência, homens, animais, florestas, águas, ar, movimento, ruído. Seu calor e luz dão-nos a graça de viver e celebrar a vida a cada dia. (Carlos Rossini é editor de vitrine online)

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

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