DE IBIÚNA PARA OS EUA – ARAVENA CONCLUI SUA MAIOR OBRA; UM TRIBUTO À CRIANÇA E À ALEGRIA
O artista plástico Enrique Aravena, 70, natural do Chile e morador em Ibiúna há mais de vinte e quatro anos, completou, depois de sete meses de trabalho, sua maior obra com 2,5 metros de altura x 6 de comprimento, pintura em acrílico sobre painéis de lona.
Trata-se uma belíssima composição de cores harmoniosas que reúne 125 personagens, a maioria crianças em estado de puro divertimento. Intitula-se Parque de Diversões, La Feria, em espanhol. Poderia ser chamado também de Alegria, pois é uma sensível evocação da criança que existe em todos nós.
O quadro permite muitas leituras em cada uma de suas múltiplas cenas fixadas na tela com espátulas e pincéis, elaboradas com paciente espírito de artesão. O cenário geral inspira sentimentos de paz, harmonia, serenidade e delicadeza.
Nós próximos dias de janeiro, Aravena enrolará, separadamente, cada um dos quatro painéis e os embalará cuidadosamente a fim de exportá-los para a Roth Bros Art Dealers, agência que comercializa obras de arte em Nova York, Miami e Cidade do México. O Circo, pintura de 1917, com 2,5 x 4,3 metros, também teve o mesmo destino.
Outras obras de Aravena já foram vendidas pela mesma empresa no México, Alemanha, Estados Unidos, Canadá e Espanha. A maioria delas foi criada no município de Ibiúna, onde o artista possuía uma chácara e em seu atelier localizado no Jardim Vergel de Una 2, um condomínio localizado na saída da cidade para o município de Piedade.
RETRATO DO ARTISTA
Antes concluir o Parque de Diversões há poucos dias, em Ibiúna, Aravena seguiu uma longa trajetória de vida, desde que, sob a ditadura de Pinochet, seu país passou por uma crise econômica o imperativo de sobreviver à situação.
Aravena tinha uma pequena agência de publicidade onde exercia a função de ilustrador, então com a idade de 24 anos. Nessa época, junto com um grupo de artesãos, seguiu para Arequipa, no Peru, onde participou de uma exposição. Alguns retornaram ao Chile, mas Aravena, vivendo como hippie e vendendo artesanatos, resolveu seguir adiante em busca de conhecimento. Depois de ficar no Peru, partiu para o Equador, Bolívia, Argentina e outros países da América do Sul. Em l976, chegou ao Brasil, tendo morado na cidade de São Paulo e depois Ibiúna.
Temuco, sua cidade natal, na região sul do Chile, que atrai turistas do mundo todo por ser uma região de lagos e vulcões e de paisagens de tirar o fôlego, ficou para trás. “Era uma região com muitos artistas, como a poeta e diplomata Gabriela Mistral, que ganhou o Prêmio Nobel de Literatura em 1945, e que foi professora de sua mãe.
BUSCA DA VERDADE
As viagens de Aravena pelos países da América do Sul tinham uma motivação profunda. Ele buscava conhecimento para descobrir a sua verdade interior. Aí percebeu que as pessoas precisam recuperar a inocência da infância por meio do autoconhecimento. Essa busca de alguma forma produziu frutos importantes, como a sua mais nova obra em que brincar faz parte essencial da vida, não importa a idade que se tenha.
Aqui em Ibiúna disse ter encontrado uma beleza natural e um povo acolhedores, assim como se encantou com as cores tropicais do Brasil. No Parque de Diversões, Aravena enfrentou o desafio das cores e da técnica. “Quando os sininhos” tocaram em sua mente, considerou a obra pronta, como uma doação para o mundo, assim como milhares de outras que já produziu, com espírito sereno, pacífico e amoroso.
Aravena encontrou na manifestação artística a sua autorrealização como ser humano que cultiva com humildade de consciente filho do Criador, que o inspira o tempo todo. “Minha vontade é a vontade de Deus”, disse à vitrine online, como um ser que encontrou o que estava buscando.
ENCONTRO COM O AMOR
Aravena talvez nem tenha imaginado que, ao abrir uma escola de arte na Granja Votorantim, para assegurar sobrevivência em Ibiúna, teria uma aluna que se encantaria por ele. Era Helenice Araújo dos Anjos, uma jovem que foi além da arte.
Ambos se casaram e vivem de modo tranquilo com os filhos, Artur, 9, e Rodrigo, 6, que estão naturalmente imersos num ambiente de cores, formas, gestos e palavras em que protagonizam um relacionamento tão harmonioso como a combinação de cores desenhadas por seu pai. (Carlos Rossini é editor da revista vitrine)