ERA UMA VEZ UM HOMEM QUE SE TRANSFORMOU NUM PÉ DE ALFACE

Alface é uma hortense utilizada na alimentação humana desde cerca de 500 a.C. Originária do Leste do Mediterrâneo, é mundialmente cultivada para o consumo em saladas, com inúmeras variedades de folhas, cores, formas, tamanhos e texturas.

Isto posto, vamos direto ao que interessa neste momento.

Queridos leitores e queridas leitoras, talvez estejam certas religiões e filosofias que asseguram que a morte não existe e que não passa de uma ilusão. Nós apenas transmutamos da matéria para o espírito.

Na verdade, considerando as descobertas da física, todos somos formados por partículas universais infinitamente pequenas, invisíveis, subatômicas, que jamais se extinguem, na condição de energia pura.

Façamos um parêntese para lembrar o químico francês Antoine-Laurent de Lavosier (1743-1794), que descobriu o famoso princípio de que na Natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma, com base na lei da conservação da matéria.

Resumindo, isto quer dizer que os átomos que se aglomeraram de forma organizada para constituir seu corpo jamais se extinguem, mas mudam de um lugar para outro, dando origem a outras formas de tudo que existe: minerais, vegetais e animais.

O corpo humano, por exemplo, é constituído por 70% de água, ou seja, somos, na maior parte, H2O, como, aliás, acontece com nosso planeta cuja maior parte é formada pelas águas dos mares e dos rios, que estão sempre em movimento.

O fascínio pelas formas líquidas, como acabamos de saber em uma postagem feita pelo atual presidente da República tem até mesmo o poder de provocar reações eróticas, por meio das Golden Shawers, talvez por força das primitivas experiências vividas pelos espermatozoides que nadam vigorosamente para atingir e penetrar num óvulo.

Mas, não fujamos do nosso foco original. Do ponto de vista físico, nascemos, crescemos, declinamos e morremos em nosso formato para migrarmos para outras formações minerais, vegetais e animais.

Supondo esse raciocínio correto, talvez tenhamos dentro de nós, sobretudo descendentes de imigrantes europeus, os mesmos átomos das alfaces que eram consumidas 2.519 anos atrás. Não se pode esquecer que as mudas atravessaram o Atlântico para chegar até nós.

Considerando as infinitas combinações atômicas havidas nesse e em períodos anteriores, talvez essa salada que você tem sobre a mesa agora seja composta de seus ancestrais.

Como a ONU estimou que nos últimos 50 mil anos terão morrido 200 bilhões de seres humanos, então são imensas as possibilidades de estarmos sendo nutridos por outros seres como nós.

Não será, portanto, sem sentido o hábito, de fundo religioso, de se orar e agradecer pelos alimentos antes de ingeri-los. Trata-se de um justa gratidão pela vida que nos doam os nossos semelhantes.

Por tudo isso, quando passamos pelas estradas rurais e vemos imensos mosaicos de diferentes tons de verde desenhados pelas folhas, não será surpresa se nossos olhos contemplarem o cenário com um profundo sentimento de amor solidário. (Carlos Rossini é editor de vitrine online)

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

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