O QUE AS PESSOAS SENTEM QUANDO ESPERAM PELO ÔNIBUS?

Saía do Supermercado Ibiúna ontem (26), por volta das 16h30, quando deparei com essa imagem. Parei o carro por uns segundos, peguei o celular e cliquei para registrá-la por ter despertado em mim sentimentos que compartilho agora com você, leitor ou leitora de vitrine online.

O primeiro sentimento foi de compaixão e ternura, uma compreensão do estado emocional daquelas pessoas, muitas com cabelos brancos, segurando sacolas, à espera do ônibus. Compaixão pode ser descrita como uma compreensão do estado emocional de outra pessoa, de pôr-se em seu lugar ou estar ao seu lado ouvindo seus pensamentos.

Gostaria de saber o que sentiam e pensavam e mesmo o que conversavam entre si. Tentei imaginar quanto tempo estariam ali ou teriam que ficar até que tomasse o caminho de volta para suas casas, algumas em bairros muito afastados.

Aprendi que existem dois tempos, o do relógio, e o tempo subjetivo ou mental; diferente do primeiro. Uma pessoa pode estar fisicamente sentada numa mureta à espera da condução, mas sua mente não para de flutuar na linha do tempo passado-presente-futuro.

O passado pode envolver um sem número de pensamentos e emoções e ocorrem aos milhares ao longo de apenas um dia. O presente é fugidio e percebido com incríveis variações. O futuro dos que aparecem na foto poderiam incluir: “preciso chegar logo e fazer a janta”, “minha família pode estar preocupada esperando por mim”, “tomara que o ônibus chegue logo” e tantos outros.

De alguma forma todos se tornam reféns do tempo sobre o qual não podem agir, a não ser esperar, esperar… A espera pode nos aproximar de outras pessoas, de nós mesmos ou, ao contrário,  nos distanciar, quando a mente divaga nas ondulações do tempo mental.

Se pudesse prever que minha iniciativa fosse bem recebida, gostaria de sair do carro me dispor diante daquelas pessoas e formar um coral para que todos cantassem comigo o hino oficial da Cidade “Noiva Azul”, como forma alegre de esperar pelo ônibus. Ou, então, perguntaria: “Como vocês estão se sentindo agora?”, abrindo um código de acesso à própria consciência que se encontra oculta dentro de cada um de nós.

Essas possibilidades foram avaliadas com cautela e, por isso mesmo, não postas em prática, mas revelaram para mim um sentimento de amor solidário com essa parcela da população ibiunense a caminho do santuário de suas casas. (Carlos Rossini é editor de vitrine online)

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

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