HOMEM DO CAJADO SAGRADO TESTEMUNHA EXEMPLO ADMIRÁVEL DE UMA MULHER IBIUNENSE

O Homem do Cajado Sagrado, que perambula por Ibiúna, tem, entre seus dons, a capacidade de se tornar invisível, ou seja, despoja-se do seu corpo físico para observar, sem ser percebido, o que pensam, sonham, falam e fazem os ibiunenses.

Hoje, por exemplo, ele viu uma jovem mulher passar pela portaria de um condomínio em um dos bairros do município e caminhar na beira de uma estrada pedregosa e esburacada – descrição de um lugar comum, pois muitas, a maioria se encontra nessa condição.

Mas era o que ela fazia que chamou sua atenção.

Com uma sacola plástica segurada pela mão esquerda, com a direita abaixava-se e ia pegando cada resíduo que encontrava pelo caminho – copos, sacolas e garrafas plásticos, maços de cigarros amassados, latas de bebidas, pedaços de objetos variados – e os colocava dentro da sacola.

Exercia essa atividade sem que lhe pedissem ou fosse sua obrigação e, sobretudo, em silêncio. Uma pessoa comum talvez não notasse o seu gesto, mas o Homem do Cajado Sagrado não é uma pessoa qualquer. É um sábio e conhecedor das coisas importantes da vida.

Seguiu-a até que chegasse ao final da rua e sentiu o desejo de tornar-se corpóreo para lhe homenagear com palavras de gratidão em nome da Natureza da qual faz parte, como a moça. Mas, sabendo que poderia provocar um susto descomunal, se limitou a lhe enviar bênçãos, sentimentos de amor e respeito, em forma de energia sutil.

Foi exatamente quando ela se virou pressentindo que havia alguém por perto e um sentimento de paz lhe preencheu a alma. Sorriu apenas e foi embora, carregando consigo o lixo acumulado na sacola que depositaria em uma pequena construção de madeira destinadas a materiais para reciclagem.

“Nem tudo está perdido nesse mundo caótico”, pensou o Homem do Cajado Sagrado. “Enquanto houver alguém com essa consciência e senso de responsabilidade com a Natureza, haverá esperança.”

Alegrou-se com o que viu e imaginou que este município tão mal resolvido quanto à sujeira, como seria bom que se as pessoas compreendessem o mal que fazem ao não cuidarem e respeitarem a terra onde vivem.

É verdade que muitos ibiunenses têm essa consciência desperta e procuram fazer sua parte para que o município seja um dia uma estância turística digna desse nome, em que a limpeza de suas ruas e estradas se torne um símbolo de respeito à vida.

Mas, há aqueles que nem sequer se dão conta do mal que fazem ao jogar lixo em qualquer lugar e, assim, ajudar a formar pastos para cachorros em abandono e famintos, criadouros de ratos e insetos causadores de doenças. Esse é o pecado cometido pela ignorância.

O outro é a frequente incompetência das autoridades em gerenciar a destinação científica e inteligente do lixo que, diga-se de passagem, é um problema de natureza cultural. (Carlos Rossini é editor de vitrine online)

 

 

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

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