VOLTA ÀS AULAS – AS FÉRIAS DE HELENA EM IBIÚNA
A boa regra da saúde mental sugere que vivamos no presente, considerado o único tempo real. Aqui, agora! Mas o passado não pode ser deixado de lado porque fez parte de nossa história, sobretudo se ele foi vivido com alegria, risos e tiradas inteligentes de uma criança em estado de férias escolares.
Helena, 8, passou uma semana em casa, aqui em Ibiúna, antes de voltar às aulas na próxima semana. Impressionante como um serzinho nos pode encher com a luz de sua inteligência espontânea de criança visivelmente amada na casa do seus pais Ângela e Marcísio, este meu afilhado.
Tirante um leve imprevisto, único momento em que chorou, por ter encostado um dedo em uma travessa ainda quente de brigadeiro, mais susto que queimadura, o tempo todo foram sorrisos, desenhos com o uso de canetas coloridas, pedaços minúsculos de papel e colagens que expressam uma criança feliz.
Ah! Sim. Ensinou-me a lidar com o celular e a editar fotos e riu de minha ignorância óbvia e desajeitada de mexer com esse aparelhinho inimaginável em minha infância distante. A elegi minha professorinha de celular o que a fez rir ainda mais.
Achava graça das minhas brincadeiras, especialmente declarações improvisadas e danças caricatas, divertiu-se com Athena uma filhotinha vira latas a mais nova criatura adotada e que tem uma energia inesgotável, e sem parada, que gosta de mordiscar tudo que vê pela frente, incluindo tênis, panos, pedaços de madeira, pedras e provocar sem descanso as outras cadelas, Gaia, Pitty e Mary “enciumadas”.
Muitas vezes me pôs a “nocaute” com suas observações de uma lógica impecável e indiscutíveis como se fora uma filósofa precoce. Num dos desenhos com camadas coloridas bem compostas desenhou uma lupa. “Não tá vendo, é uma lupa!” Vi.
Tranquila, segura, traços evidentes de uma personalidade autônoma, me brindou com seus abraços e dançou para me imitar, com sua graciosidade, bem distante dos meus gestos anárquicos. Vivemos esses dias como se fôssemos atores em grande parte do tempo fazendo as mais surpreendentes representações, inventando histórias e rindo das nossas interpretações.
Na véspera de voltar para sua casa, em Osasco, disse que estava com saudade dos seus sete gatinhos e que iria revê-los e brincar com eles. Deve ter aprendido com a mãe a gostar de animais, sobretudo gatos e cachorros, com os quais mantém uma relação naturalmente afetiva.
Sua riqueza verbal, senso de observação e expressividade nos contagiou e nos fez ver o quanto uma criança é de fato mestra se percebida com atenção e respeito, sobretudo quando ainda não foi “contaminada” pelos adultos sempre atarefados e preocupados com outras questões, a maioria afetados por inúmeras neuroses sociais. Mas, deixemos isso pra lá!
Um dos desenhos de Helena mostra uma janela com um sol, no espaço entre as cortinas, um móvel com duas gavetas sobre a qual há uma boneca e, ao lado, uma bailarina em plena ação. O vestido da bailaria foi tecido com pequeninos pedaços de papel amassados e cuidadosamente colados, adereços que conferiram uma tridimensionalidade ao desenho.
Helena criou a sua semana livremente, respirou ar puro, ficou no gramado brincando com as cadelas e às vezes fugindo das insistentes investidas da Athena nas barras de sua calça para evitar arranhaduras dos pequeninos mas afiados dentes da irreverente cadelinha.
Tomara que estes dias entre nós, com tia Célia e a bisavó Adélia, sempre no crochê, Glauco e Patrícia e Fátima, que sempre põe ordem na casa, tenham sido para ela tão felizes e maravilhosos quanto foram para nós.
Helena é um nome feminino que teve origem com o grego Heléne, a partir de heláne, que significa “tocha”. O termo hélê quer dizer “raio de Sol”, fazendo com que o significado de Helena seja “a reluzente” ou “a resplandecente”. (Carlos Rossini é editor de vitrine online)