BREVE ENSAIO – AFINAL, O QUE É O AMOR PARA VOCÊ?

Meu amor pelas palavras, lembro-me como se fosse hoje, começou no grupo escolar, hoje fundamental 1. Elas me encantavam como signos que nomeiam as coisas, os sentimentos e os pensamentos.

Bem mais tarde, descobri que é por meio da linguagem que nos inserimos no mundo e com ela nos relacionamos. Tive a sorte de ter bons professores aos quais guardo eterna gratidão. Com exceção de uma, já na faculdade de psicologia, que me fez perder o interesse pela genética.

Do fascínio pelas palavras, meu interesse saltou para o prazer da leitura que pratico todos os dias para alimentar minha alma. Há muito tempo perdi a contagem dos livros com os quais me relaciono como se estivesse diante dos seus autores, homens e mulheres maravilhosos que doam seus conhecimentos sem pedir nada em troca.

Um dia, lá na minha infância escolar, descobri uma palavra cujo significado queria saber da minha professora. Atenciosa e interessada, quis saber qual era, mas eu não sabia sua pronúncia.

— Exauto, é exauto, professora!

Fiquei sem resposta, claro! O que esse vocábulo queria dizer, afinal? Até que um dia, recebi a graça de saber que se tratava de exausto.

Agora há pouco, depois de uma aula de filosofia clínica, emergiu do fundo da minha memória essa lembrança de um episódio tão sério na época e que agora me provoca risos da minha própria ignorância.

Há alguns anos, já adulto, me perguntei: para que servem as palavras? Durante vinte dias escrevi um livro exatamente com esse título, ainda inédito. Os capítulos são curtos e seguidos dos significados etimológicos das palavras, a fim de atribuir um lastro de conhecimento para possíveis e incertos leitores.

Deu um trabalho e tanto buscar as origens de cada uma daquelas palavras nascidas há milhares ou centenas de anos nas culturas grega e latina e, posteriormente, nos países europeus. Algumas nasceram em tempos ainda mais distantes e em outros lugares da antiguidade.

Só para mencionar um exemplo da minha jornada, evoco a palavra AMOR, cujas raízes se encontram em uma língua indo-europeia com o prefixo AM. A língua portuguesa a recebeu do latim amore, que era utilizado para designar o sentimento de “gostar de algo ou alguém, sentir afeição, desejo, preocupação.

AM também terá dado origem à palavra Mãe. Agora releia o parágrafo anterior e veja se faz sentido sentirmos amor por nossas mães.

Em algum momento da história, não recordo exatamente em que século, fiz uma descoberta interessante a respeito da palavra AMOR, vista de uma perspectiva diferente: AMORS, sendo que o A aí tem significado de negação e MORS, morte.

AMOR, dessa perspectiva, representaria ausência de morte, ou seja, AMOR significa VIDA. E o que poderia ser melhor de que amor significar a vida como nossa existência? Assim teremos a seguinte equação verbal: AMOR É VIDA E VIDA É AMOR.

Amor e vida fazem parte da mesma dimensão existencial no seu sentido mais belo, como dito acima: sentimento de gostar de algo ou alguém, sentir afeição, desejo e preocupação, aqui certamente no sentido de querer que o outro esteja e continue bem.

Há, portanto muitas maneiras de amar a si mesmo e aos outros e as palavras e suas tonalidades constituem as maneiras que nos relacionamos. Mas, há outras palavras que não foram convidadas para fazer parte deste ensaio e podem constituir verdadeiras armadilhas para o amor. (Carlos Rossini é editor de vitrine online)

 

 

 

 

 

 

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

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