IBIÚNA 2020 – MUNICÍPIO INICIA O ANO ENTRE A NEFASTA REALIDADE ADMINISTRATIVA E O DESEJO DE MUDANÇA

Algum dia, nós, os ibiunenses, nos lembraremos do aqui e agora. Dos tempos presentes. Dos maus governantes. É fácil reconhecê-los pelos seus deméritos e suas condutas pífias e distantes dos anseios e necessidades da população.

Naturalmente, vivemos dias de festas, importantes para deixar coisas ruins no passado e abrir os braços e as mentes para o novo ano, que nos oferece a chave da porta da esperança, mas, também, da dura realidade cotidiana.

Como as coisas serão realmente e que atitudes deveremos tomar em relação a elas?

Num balanço de pelo menos os dois últimos anos, lançaram-se palavrões incríveis nas redes sociais, as mais terríveis já dirigidas à mais alta autoridade do Poder Executivo, a fim de sinalizar insatisfação para o Executivo e aos vereadores que o endossam no Legislativo.

Muitos manifestaram o desejo de jogar lixo diante do Paço Municipal, em protesto contra a falta de coleta e acúmulo de montanhas de sujeira pelas estradas e em frente às suas residências.

Os pedidos de iluminação pública foram incontáveis, sem que fossem atendidos, na maioria absoluta deles, e a escuridão se faz presente como um fator de risco à segurança pública.

O prefeito, do seu lado, disse que se esforçou ao extremo para pôr “a casa em ordem, administrativa e financeiramente e que não foi compreendido”. O tempo que lhe resta flui rápido, em um ano eleitoral, com pelo menos meia dúzia de pré-candidatos à chefia do Poder Executivo. 

Depois de anunciar sua candidatura à reeleição, deverá lançar seu derradeiro esforço para mudar a opinião pública a seu favor. Se conseguirá ou não, dependerá dos fatos a serem observados.

O que pensam as mães de alunos, que, em desespero, fizeram atos públicos em protesto pela falta de transporte escolar, com apoio de um programa de televisão, contando dias e dias de falta às aulas dos seus filhos, por não terem como chegar a unidades da rede municipal de ensino?

E as pessoas que passaram por tormentos em busca de atendimento hospitalar demorado, precário, com falta de médicos, remédios, e tiveram que buscar socorro em cidades como Cotia, Sorocaba, São Roque, ou mesmo São Paulo? E os profissionais da saúde e os demais servidores que tiveram sucessivos atrasos de pagamento?

E todos aqueles que deixaram de contar com exames laboratoriais, por falta de pagamento à empresa terceirizada contratada para prestar esse serviço?

A propósito, um vereador protocolou um pedido de abertura de processo de cassação do prefeito, alegando que as gestantes e seus bebês passaram a correr risco de morte pela falta de serviços básicos no acompanhamento pré-natal. Será apreciado em fevereiro na Câmara Municipal.

E os motoristas que transportam produtos agrícolas, a base econômica do município, ou seguem para o trabalho, e que fazem malabarismos para escapar dos buracos e, não raro, sofrem prejuízos pelos danos provocados por uma infinidade de armadilhas, que rasgam pneus, destroem suspensões ou mesmo contribuem para a ocorrência de acidentes? E o que pensam os usuários da Rodoviária, cujo telhado desabou no dia 27 de novembro, e continua sendo uma vergonha para todos os munícipes?

Do ponto de vista prático, foram três anos perdidos, que criaram marcas profundas de descontentamento em largas camadas da população urbana e rural. Jamais se viu antes, em tal proporção, um óbvio e tremendo distanciamento entre a Autoridade e os munícipes.

Uma lição indispensável para todos aqueles que pretendem disputar o cargo de prefeito nas próximas eleições. Um erro grave que não pode ser repetido.

Algum dia, no futuro, nos recordaremos dos tempos presentes. E, pelo andar da carruagem, não teremos motivo algum para sentir saudade.

Por fim, mas não menos importante, a questão mal resolvida talvez se encontre na relação entre a magnitude e complexidade dos problemas e a estatura de competência para solucioná-los.

O prefeito demonstrou notórias dificuldades em lidar com críticas e reclamações, inevitáveis em se tratando de um homem público. Faltou-lhe traquejo de saber ouvir sem rancor. Exasperou-se com frequência, sobretudo em postagens destemperadas que emitiu pelo whatsapp. Por este e outros motivos, perdeu amigos, aliados, apoiadores e parcela significativa dos servidores que nele acreditavam.

Seu secretariado, obediente, seguiu à risca suas vontades e determinações, exceto alguns que, por divergências, tiveram que deixar o governo em episódios constrangedores. O vice-prefeito, que o acompanhou durante toda a jornada da campanha, disciplinado e humilde, ficou relegado do cenário governamental.

Firmou compromisso público de “cuidar da vida das pessoas”.

Anunciou um estilo administrativo contraditório com as ações práticas: “Fazer [as coisas] de forma certa, tecnicamente adequada, legalmente correta e que seja duradoura e que transforme a vida das pessoas”. (Carlos Rossini é editor de vitrine online) 

 

 

 

 

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

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