ENSAIO – É POSSÍVEL DOMAR OS “CAVALOS” CHAMADOS PENSAMENTOS

Tenho dito em minhas palestras que os seres humanos são constituídos por uma complexa estrutura existencial.

Que cada pessoa é única e vê o mundo e a si mesma de modo singular, imersa ou envolvida nos mais diferentes assuntos, circunstâncias, lugares, tempos e relações.

Ou seja: a vida humana está sujeita a uma dinâmica e variável rede de situações, algumas boas, outras ruins e difíceis de lidar, em busca, do que se chama felicidade, termo difícil de definir tal é a sua diversidade de impressões. Isso depende da historicidade de cada ente.

Não existe um um modo certo de existir, assim como nada há de errado ser de um jeito ou de outro. Os indivíduos são e agem do jeito que são, tenham mais ou menos consciência dos seus pensamentos e emoções.

Em princípio, é observável que você esteja fisicamente 100% onde está. Sempre  nosso corpo está em algum lugar. Mas, mentalmente podemos “estar” em diversos “lugares” ao mesmo tempo: no passado, no presente ou futuro, “vagando”, como uma rolha, nas imprevisíveis ondas dos pensamentos.

Proponho para os integrantes do encontro, antes de mais nada, que escrevam em poucas palavras como estão se sentindo naquele exato momento. No final, peço que escrevam novamente como estão se sentindo. As diferenças entre os primeiros escritos e as últimos são impressionantes. Há uma notável mudança de autopercepção. Os resultados são gratificantes para os participantes e para o palestrante. Seus olhares e aparência ganham um brilho antes inexistentes. 

Inicio com uma singela meditação, com fundo musical suave. O objetivo de promover a melhor presentificação possível das pessoas no ambiente e permanecer no aqui e agora . É um modo visando reduzir ao máximo as tagarelices e imagens mentais que os participantes trazem dentro de si.

As pessoas descrevem uma diversidade de pensamentos singulares. Alguns dizem que estavam pensando no filho que têm que buscar na escola, outros sentem dor em algum lugar do corpo, fome, têm lembranças  de fatos acontecidos em sua infância ou de algum acontecimento marcante em suas vidas.

O tempo todo estamos sujeitos a pensamentos e imagens que surgem sem que sejam de nossa vontade . Ou seja, raras são as pessoas que conseguem equilíbrio em suas telas mentais.

Tocamos nossas vidas em geral de modo repetitivo e automático e essa é uma armadilha constante em nossa jornada diária. Nos tornamos objetos e não sujeitos dos nossos próprios atos, agindo como robôs, distantes de nossa essência ou alma, se preferirem. Ou seja: muitas vezes somos pensados e não autores dos nossos pensamentos.

Podemos carregar medos, por motivos reais ou imaginários, talvez a maioria deles, por horas, dias ou mesmo semanas, até que um acontecimento novo os diluam e eles mergulham em nossas profundezas, na habitação oculta dos nossos sonhos.

Às vezes, basta expressar seus problemas com alguém em quem tenha confiança e respeite para dissolver os fantasmas que o assombram. Outras, em casos mais severos, é importante buscar ajuda de profissionais que atuam no campo da psicoterapia e/ou do organismo, com intervenção de medicamentos. Melhor ainda que se cuidem com ambos os tratamentos.

É difícil estar montado em um cavalo que não obedece às rédeas, e parte em várias direções, quando a razão e emoção se digladiam entre si de modo conflituoso.

Em suma, os motivos para os sofrimentos humanos são infinitos e desafiadores, mas há, igualmente, muitos recursos científicos e filosóficos de comprovada eficiência, para que você aprenda a agir com sabedoria.  Você nunca está só, mesmo que se sinta assim. Buscar ajuda é uma forma de cuidar dos seus problemas existenciais e  reconfigurar seu modo de ver o mundo e a si mesmo. (Carlos Rossini é editor de vitrine online e estudante de pós-graduação em Filosofia Clinica)

 

 

 

 

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

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