IBIÚNA – AUXILIAR DE ENFERMAGEM DO HOSPITAL MUNICIPAL SEGUE INTERNADA POR CORONAVÍRUS; IRMÃO FAZ GRAVES DENÚNCIAS

A auxiliar de enfermagem Lucimara Cardoso, 42, que trabalha no Hospital Municipal de Ibiúna há 20 anos, foi infectada com o coronavírus e está internada no Hospital Regional Dr. Adib Jatene [novo regional de Sorocaba] há alguns dias.

Hoje (23) seu estado é considerado estável, mas ela deverá prosseguir internada. Os exames apontaram manchas em seus pulmões, com estado febril.

Seu irmão, professor Alexandro Cardoso, 38, fez sérias denúncias nas redes sociais, com a devida autorização da irmã, sobre as condições de trabalho no Hospital Municipal.

Vitrine online reproduz, abaixo, na íntegra, seu depoimento. Entre outros aspectos, ele atribui o contágio de sua irmã a falta de equipamentos de proteção individual aos profissionais de saúde:    

Minha irmã testou positivo para o COVID-19. E agora eu me pergunto: QUEM VAI PAGAR A CONTA? Não falo aqui de valores em dinheiro. Falo da conta emocional, do desgaste psicológico e do desespero que abala toda uma família. Minha irmã, como todos sabem, sempre esteve na linha de frente. Sempre amou a profissão e dedica-se a cumprir fielmente o seu juramento. Hoje, testou positivo para o novo CORONA VÍRUS. Provavelmente tenha sido infectada em seu próprio ambiente de trabalho.

É muito fácil chegar à essa conclusão óbvia dado os fatos ocorridos dentro da nossa saúde Municipal. Estou falando do que vemos e constatamos.
As lives infinitas feitas pelo Excelentíssimo Prefeito João Mello não condizem com nada da atual realidade. O que temos ali (e agora podemos falar com propriedade dos fatos) é mesmo um “cemitério provisório”, onde pacientes suspeitos e confirmados são amontoados um ao lado do outro e sem a menor proteção. Um quartinho da Pediatria fechado como emergência e sem nenhum aparato realmente necessário para uma possível utilização. Nem sequer uma torneira para higienização dos profissionais da saúde existe.

Técnicos estão colocando 5 pares de luvas por vez e retirando uma a uma depois de cada procedimento. A roupa que deveria ser descartável, está sendo mandada para a lavanderia. A máscara, que dura no máximo 6 horas, está sendo reutilizada por 15 plantões. Não existe medicação apropriada. Os pacientes suspeitos tomam apenas alguns medicamentos comuns e, se quiserem os específicos, precisam comprar.

Demonstro aqui minha indignação e falo daquilo que vimos. Um hospital de Campanha com respiradores sem funcionar. Funcionários sem a paramentação correta e muitos deles (soube por fonte segura) sendo infectados.
Tudo isso porque é muito fácil fazer lives e falar de dados. Por trás de uma câmera é tudo muito simples. Mas o que acontece de fato para aquele que põe a mão na massa? Isso não se divulga nesse desgoverno?

Não estou aqui para discutir, nem tampouco levantar polêmica. Mas não posso me calar diante da dor de minha família.
Hoje a vítima que me refiro é um rosto familiar. E podemos atestar da tristeza e do desespero que é. Quando a situação bate à sua porta é que realmente sentimos o peso do problema.

Se minha irmã tivesse sido “protegida”, como deveria e como era seu direito como profissional, talvez ela e alguns outros da mesma área, não estivessem passando pelo “vale da sombra da morte”.
Se Deus quiser ela irá se recuperar. Temos Deus ao nosso lado e confiamos em seu poder. Mas o lado emocional? Este sim ficará marcado em nossas memórias.
Estamos vivendo momentos de angústia.

E essas memórias e sentimentos abalados, não esquecerão jamais do descaso desse DESGOVERNO que deveria ser o primeiro a valorizar e proteger os seus profissionais.
E agora Prefeito? Vai dizer que é fake news ?”

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

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