DEPOIS QUE A COVID PASSAR, RETORNAREMOS AO MUNDO DAS ILUSÕES

Os brasileiros já viviam cheios de problemas antes de a Covid-19 ser reconhecida pela OMS como pandemia. Milhões de desempregados, governo à deriva, violência, para citar três exemplos. A pandemia só inflou a situação ampliando e intensificando ainda mais as crises existenciais da população em todo o território nacional. Claro, como sempre, os mais desvalidos são os que sofrem os maiores tormentos, o que se verifica e se repete ao longo da história.

Mas os males da pandemia, além da dor, do sofrimento e de milhares de mortes, são extensos e profundos e somente serão devidamente avaliados quando o tempo passar e o fenômeno puder ser visto à distância sob a óptica da verificação luminar das ciências, especialmente as humanas.

Ao tentar entender o que acontece no interior das pessoas durante esse período pestilento, é possível observar características típicas de momentos em que a civilização se viu ameaçada pela morte provocada pelas guerras, terremotos, furacões, tsunamis ou enfermidades epidêmicas ou pandêmicas, como a peste bubônica e o novo coronavírus que nos assola e nos conturba neste momento.

O medo não apenas de contrair o vírus, mas relativo a questões de sobrevivência física, financeira e aquele provocado pelo distanciamento e isolamento social remete o indivíduo para si mesmo, num movimento introvertido para o qual a maioria dos indivíduos não está preparada.

Como uma pessoa que mal se conhece a si mesma e tem pouca habilidade para lidar com suas emoções e pensamentos pode manter um equilíbrio da tríade mente-corpo-espírito se é estranha para si mesma?

Observe-se a si mesmo? Como estão seus sonhos noturnos, durante o sono? Eles mudaram? Você se lembra deles e consegue interpretar suas mensagens existenciais? Como você está percebendo os outros? Eles estão diferentes, para além das máscaras faciais, do que eram antes da pandemia? Como está sua relação com a natureza, o sol, o céu, as árvores, os animais, a sua casa, os seus familiares? O que mudou em você e nas pessoas, já que provavelmente revelaram novos comportamentos?

Você confia nas autoridades de sua cidade, do seu estado e do seu país? Sente-se segura com seus feitos e pronunciamentos? Sente que pode confiar nelas ou se sente abandonado à própria sorte, como essas pessoas aventureiras que sobem montanhas, vagam pelo deserto ou florestas ou se aventuram pelas geleiras e polos da Terra e somente podem contar com seus próprios recursos e um relacionamento criativo com a natureza?

O fato é que a “nova normalidade” ninguém sabe como será e a “normalidade” antes da pandemia era nada mais nada menos do que um painel de incertezas e de servidão por conta e ordem de como o poder se concentra nas mãos de uns homens aos quais, de um modo ou de outro, obedecemos como uma manada insensata que caminha para o matadouro.

O que vai acontecer, e isso é lamentável, é que mudaremos de mentiras e ilusões, porque os sonhos de liberdade individuais exigem um esforço descomunal para superar a força da gravidade que nos mantém no solo comum da sociedade, embora isso seja relativamente possível. Definitivamente, ao contrário do que se vê na foto (uma ilusão criada), a Terra não é plana. (Carlos Rossini é editor de vitrine online)

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

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