A PITANGUEIRA
Acordo ainda meio zonzo de tantos sonhos e vou para o quintal. O dia está claro, céu azul e sem nuvem, apenas um ventinho frio desta manhã de inverno.
Caminho pelo quintal, vou dar uma volta habitual em torno da garagem e seguir pelas calçadas que contornam a casa, mas de repente, ante o esplendor da luz, vejo-a toda engalanada de flores, uma pitangueira que ganhei de uma formanda onde dei aula e participei de uma banca examinadora. A aluna em questão, que foi aprovada, diga-se, presenteou cada um dos mestres com uma planta. A mim coube a muda da pitangueira.
Eu a plantei já há alguns anos e desde pequenina cuidei dela, de modo que tirava dos seus galhinhos as folhas mortas de outras árvores adultas que caiam e se enroscavam aqui e ali. Lembro-me também que podava galhos que saiam do seu tronco próximo ao solo. E pedi a ela que fosse bela e formosa tal como a vi nesta manhã.
Hoje, no entanto, ela estava como uma noiva feliz a caminho do altar, todinha pintada da alvura de suas pequeninas e delicadas flores que exalam um perfume tão sutil quanto doce que atrai os pequeninos animais voadores, que vão retirar o néctar e produzir mel em algum canto da mata. Logo mais estará carregada de frutinhos vermelhos deliciosos.
O sol bordava uma aura em torno da pitangueira, o que lhe atribuía uma harmoniosa combinação de luz e brilho naturais e certamente quem quer que passasse por ali, logo verificaria um pequeno e anônimo espetáculo da natureza, da qual todos somos originários.
Convidei minha mulher para ver o espetáculo e ela, como eu, se encantou com o que viu, admirada da beleza que encheu nossos olhos de alegria e nos mostrou como a vida é singela e segue seu curso natural, que às vezes mal percebemos por desatenção. (Carlos Rossini é editor de vitrine online)