PERSONA – DE MENINA VENDEDORA DE ALHO A EMPRESÁRIA DE SUCESSO EM IBIÚNA

A família morava em Iguatu, na região centro-oeste do Estado do Ceará. O pai, Francisco Alves do Carmo, resolveu tentar a sorte em São Paulo. Veio, arranjou emprego, se firmou. Depois vieram sua mulher, Maria Vieira Alves, e as três filhas.

Valdenia do Carmo Galli, uma das filhas, contava então três anos quando chegou a São Paulo. Quando tinha oito anos, seu pai veio a falecer. A mãe não trabalhava e, por isso, ela e as duas irmãs passaram a vender alho na feira para ajudar na casa e a sobrevivência da família.

Valdenia com a palavra:

“Quando criança morava no Ceará era bem humilde e passávamos muitas dificuldades, meu pai foi tentar melhorar de vida em São Paulo e logo buscou a família, as coisas foram melhorando, arrumou um emprego e conseguiu nos dar uma vida melhor, estudei em colégio público até ele falecer. Tive que parar de estudar para trabalhar e ajudar minha mãe ainda criança, só voltei estudar mais tarde e finalizei o segundo grau. Trabalhei em lojas de rua e em shoppings até conseguir montar minha primeira loja.” Depois inaugurou outra.

A vida seguia, mas Valdenia passou a sofrer síndrome de pânico. O médico que a atendeu a orientou que se mudasse para uma cidade do interior, um lugar mais tranquilo ajudaria a ter uma vida mais calma.

“Passamos, então, a visitar várias cidades do interior. Quando cheguei em Ibiúna me apaixonei. O senhor Hélio, dono de imobiliária, começou a procurar e achou a chácara onde moramos. Amoooo o lugar e os vizinhos!”, diz Valdenia com entusiasmo.

“Depois de conseguir a chácara abrimos nossa primeira loja que deu muito certo. Fechamos as duas lojas de São Paulo e em seguida montamos a segunda no Calçadão, perto da rodoviária e isso já faz 10 anos. Graças a Deus um grande sucesso, mesmo na pandemia enquanto muitos fecharam continuamos firmes e fortes, apesar de todos obstáculos.”

Trata-se das lojas “TO NA MODA”, uma feminina, na rua Pinduca Soares, a outra, feminina e masculina, localizada na rua Angelino Falci (Calçadão).

“FIZ MUITOS AMIGOS”

“Sou uma pessoa muito batalhadora, corro atrás dos meus sonhos, não tenho vergonha, sou a garota propaganda da loja, faço fotos, vídeos, gerencio as redes sociais, faço compras, contrato funcionários, ensino e ainda vendo.”

“Sonho em deixar minhas lojas redondinhas para poder descansar, viajar, pois já trabalhei muito. Me dou muito bem com as pessoas de Ibiúna, fiz muitos amigos.”

Valdenia relata suas impressões sobre o impacto da pandemia no comércio em geral:

 “O comércio está desesperador, tivemos um ano de grandes perdas, mesmo reabrindo, o comércio está muito devagar, porque devido a pandemia o pessoal está com receio tanto da doença e também sem dinheiro.”

“Em relação ao mundo, hoje vejo tudo muito estranho, de repente uma pandemia que nos tirou o chão, mas não desistimos e conseguimos vencer no financeiro, na saúde, por mais difícil que esteja, não perco minha fé nem a força de vontade de vencer e superar tudo isso.”

“Eu vejo meus clientes como parceiros que amam meu trabalho e meu produto, porque tenho clientes fiéis, que sempre voltam. Vendo umas roupas bem bacanas e modernas. Somos referência de moda na cidade. Todos os dias aprendo coisas novas, estudo muito sobre meu segmento (moda) para levar o melhor para minhas clientes.”

Para alguém que vendeu alho na feira para sobreviver, Valdenia tem razões de sobra para se rejubilar do sucesso e das suas maiores razões para sentir orgulho:

“Tenho duas filhas, uma médica, Gabriela Galli, que formei com muita dificuldade e hoje é uma profissional incrível que me ajuda muito, principalmente nessa pandemia, e a Camila Carmo, nutricionista, também uma benção que me ajuda em tudo. Sem elas não teria conseguido manter meu comércio na pandemia. Tenho muita garra e não desisto nunca!”

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

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