PESSOAS DESMAIAM DE FOME EM UBSs NA CAPITAL MAIS RICA DO BRASIL

A notícia de que pessoas estão desmaiando por fome em filas ou cadeira de espera das Unidades Básicas de Saúde de São Paulo, a capital mais rica do país, é consternadora. Entre os casos, o de um jovem, crianças e grávidas que, na hora da consulta, pedem comida aos médicos. [Publicada hoje (29) na Folha de S. Paulo]

O secretário da Saúde, Edson Aparecido, ao admitir esses fatos como dura realidade anunciou que eles começaram a aparecer há três meses, no miserável clima da pandemia. Problema grave de desnutrição.

Esses personagens paulistanos, que moram na periferia, fazem parte dos 19 milhões que vêm passando fome em todo o Brasil e não têm a quem apelar, além de não contar com nenhum tipo de renda social e muito menos por falta de trabalho. O exército de desempregados soma cerca de 14 milhões de pessoas. Muitos não contam com nenhum tipo de refeição ao longo do dia.

Entre os que desmaiaram nas UBSs na Capital estavam os que não havia ingerido nenhum alimento nas últimas vinte e quatro horas. Imagine-se a situação das gestantes que precisam ter uma alimentação adequada até mesmo para garantir a nutrição dos filhos em gestação. Absurdo!

A desastrosa falta de emprego e/ou trabalho está diretamente relacionada à sobrevivência do trabalhador e de sua família, daí se entender em grande parte os tristes episódios verificados nas unidades de saúde paulistanas. Uma vergonha para as autoridades federais, estaduais e municipais que não conseguem reverter esse cataclismo social. Isso tudo acontece em meio a privações, humilhações e carências que levam intensos dramas e tragédias dentro de lares que, muitas vezes, não passam de um barraco com precárias condições de habitabilidade.

Os auxílios anunciados pelo governo federal estão muito longe de suprir as necessidades básicas de uma família. Além disso, os preços dos produtos alimentícios estão fora de controle, como os dos combustíveis, e se tornam cada vez mais inacessíveis à maioria absoluta das famílias.

Recentemente, cenas não menos chocantes se verificaram em cidades nordestinas: pessoas buscando algo que comer, revirando caçambas de lixo, disputando sobras com cachorros. Sem contar aqueles que buscam descartes de ossos de açougues com alguma carne rebarbativa ou os que conseguem comprar, com imensa dificuldade, produtos quebrados [arroz, feijão] ou de qualidade inferior.

Diante desse cenário melancólico, resta saber que papel institucional estão cumprindo as autoridades do Poder Executivo em âmbito nacional, estadual e municipal. Porque é no plano municipal que o problema se manifesta cada vez mais, com o notável aumento da criminalidade relacionada a furtos que, em última instância, significa uma forma marginal de obter recursos financeiros, complicando a situação da segurança pública.

Falamos aqui de fome, desmaios, falta de emprego e de renda, de saúde e de segurança pública, porque uma coisa se reflete na outra e é preciso autêntica sensibilidade humana para ao menos mitigar essa inaceitável realidade. (Carlos Rossini é editor de vitrine online)

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

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