HOJE (7) É DIA DO JORNALISTA – PERDÃO LEITORES!

Neste dia (7) comemora-se o Dia do Jornalista. Talvez por coincidência ou por isso mesmo recebo convite para participar de um programa na Rádio Una, neste sábado (9) comandado por Fátima Alessandra, das 11 às 12 horas. Participe e interaja com o programa. Afinal, esta é uma oportunidade de fazer perguntas para aquele que é um profissional fazedor de perguntas.

Titubeio na resposta, mas acabo aceitando porque, afinal, a questão do jornalismo ibiunense merece no mínimo uma reflexão pública pela forma como se comporta historicamente.

Percebo haver uma simetria entre o jornalismo e a política ibiunense por conta de uma tradição que há muito deveria ser revista, tanto por parte dos políticos quanto da imprensa local, ambos marcados por uma viciosidade que em nada ajuda na necessária evolução cultural da sociedade como um todo.

Essa tradição neste momento se exibe um notável fato político: nada menos do que 14 dos 15 vereadores que integram a atual legislatura fazem parte da base aliada do prefeito de algum modo, em forma de evidente apoio às demandas do Executivo. Talvez seja a maior base de que se tem conhecimento por obra e arte de um dos políticos mais astutos e calculistas de todos os tempos que vem exercendo influências decisivas na gestão pública ibiunense.

Os edis se comportam com rasgados elogios e gratidões manifestas ao Executivo, num jogo em que ao mesmo tempo se exibem em vídeos e fotos ao lado de estradas que recebem serviço de terraplenagem ou um punhado de pedras, ou nova viatura recebida no Paço Municipal ou ao lado de um incipiente serviço de recapeamento que se promete ilusoriamente ser realizado “a todo vapor”. Todos buscam garantir prestígio junto ao eleitorado já de olhos na reeleição.

O chefe do Executivo, por seu turno, não deixa por menos: tudo que pode granjear prestígio logo aparece em forma de postagem (vídeo ou fotolegenda), incluindo cenas corriqueiras como o registro de um almoço em um restaurante popular, ou contrito orando na igreja católica ou com devota expressão no Paço Municipal em louvores evangélicos.

O bom jornalista precisa perceber os fatos para além dos véus ideológicos que os políticos pretendem impor aos outros e se posicionar com uma oitava acima do “encantamento popular” com o propósito que deixam entrever de manipular mentes e corações, sobretudo de pessoas de recursos intelectuais mais simples.

Um dos mais sérios problemas com o jornalismo ibiunense, que, na realidade está presente em milhares de municípios brasileiros, é a falta de independência econômica, um elemento determinante de condutas éticas.

No mundo ocidental a imprensa primeiro foi algo inventado para servir a economia e as necessidades comerciais dos empreendedores de séculos atrás até os dias presentes.

Até hoje para respirar ares de liberdade editorial um veículo de imprensa precisa de recursos provenientes da publicidade, dos anunciantes. Se falta isso ou isso é escasso, pronto, qualquer veículo se torna presa fácil do poder econômico. É o processo indisfarçável para obtenção de apoio editorial que se vê de forma até mesmo abusiva e desrespeitosa, quando não de extremo mau gosto estético.

Por isso mesmo há dias escrevi que o jornalismo precisaria ser reinventado em nossa cidade, a partir do princípio de que jornalista é antes de tudo um prestador de serviço ao povo e não àqueles que detêm poder político ou econômico em frações de tempo.

Então a melhor coisa que um jornalista consciente do seu papel social pode dizer em seu dia é: perdão leitores! (Carlos Rossini é editor de vitrine online)

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *