EDITORIAL – UMA NO CRAVO, OUTRA NA FERRADURA
Esse ditado é muito conhecido. Literalmente significa o seguinte: para fixar a ferradura em cavalos e similares, sem machucar ou assustar o animal, o ferreiro bate alternadamente com o martelo ora no cravo (prego), ora na ferradura. Mas política e metaforicamente essa expressão apresenta interessantes significados. Eis alguns exemplos: manter-se numa posição dúbia ou ficar em cima do muro. É também algo de que não se pode fugir, do qual nós podemos apenas nos conformar e, ainda, sinônimo de imparcialidade.
Fazer boas ações e más ações consecutivamente ou algum bem e desfazê-lo em seguida se inclui como atitude política que se enquadra perfeitamente no dito “Uma no cravo, outra na ferradura”, o que situa a atividade política como algo sempre duvidoso e está aí o que pensa o povo sobre esse famigerado assunto.
Mas política é, sobretudo, um fenômeno dialético, ou seja, uma contenda que opõe forças antagônicas entre si em busca de um objetivo comum: o poder. Não é coisa para seres inocentes e puros e requer uma ética de conveniência que inclui até mesmo falsas atitudes sociais e públicas.
Neste momento acontece o invés do que ocorria até fins de agosto. Um poder evidente reinava na Câmara Municipal de Ibiúna: o então prefeito contava com votos favoráveis de onze vereadores de um total de quinze parlamentares, resultante de um arranjo político que definiu também e previamente a eleição do presidente da Casa. Em minoria absoluta, dois vereadores, parecidos com integrantes do exército brancaleone, se destacavam por apresentar ousados requerimentos sobre diferentes setores municipais, principalmente na área da saúde. Paralelamente, não se levava a sério a posse de um prefeito que recebera a maioria absoluta dos votos nas eleições de 2012, cuja candidatura se encontrava indeferida.
Bem a história é conhecida. Fábio Bello tomou posse no dia 6 de setembro e já está no comando da prefeitura exatamente há trinta dias e também na posição de alvo preferido de ataques daqueles mesmos edis que estavam na trincheira do ex-prefeito. Agora, claro, isso faz parte do jogo político e do desejo incontrolável de demonstrar e compartilhar do poder de modo direto e inequívoco, em nome dos eleitores que lhes delegaram as sagradas funções de legislar e fiscalizar o Executivo.
Fato similar ocorreu na gestão Coiti Muramatsu. Tímido, sem nenhuma vocação e experiência políticas, bastou surgir no ar a plantada ameaça de sua cassação e o prefeito entregou os pontos. Foi engolido pelo processo de provocações e por um grupo que ficou conhecido como “forasteiros”. E deu no que deu.
Agora, no entanto, o prefeito é um dos homens de maior experiência política em Ibiúna que governou a cidade por oito anos seguidos e atuou também como vereador. O outro é o legendário Zezito Falci. De um lado, tem a manha de cativar o povo; de outro, de conhecer as regras do jogo político como poucos, além de integrar o partido de aliança de maior prestígio do governo Dilma Rousseff. Tudo indica que Ibiúna assistirá à uma nova experiência política que poderá traçar novos rumos e paradigmas para a cidade.
Pode parecer curioso, mas é oportuno que se diga que o ponto de partida do governo Fábio Bello reside exatamente num valor que se pretendeu fixar em relação ao prefeito anterior: na ética. Basta ler os argumentos das notícias das intervenções que estão sendo feitas, sobretudo em relação aos contratos firmados com diversos fornecedores da prefeitura.