FALA, FÁTIMA ALESSANDRA!

Bióloga, artista plástica, poliglota, professora, Fátima Alessandra é a mais irrequieta jornalista em Ibiúna. “O dia precisaria ter 72 horas para que eu pudesse dar conta da minha agenda diária, que começa às 3h30, cuidando de animais, checando meu material de trabalho jornalístico, seguido ou não de um café, e que se estende pelo dia e avança noite adentro.”

Em 2020, em plena campanha eleitoral, ela criou uma página no Facebook intitulada “Fala Ibiúna” que vem sendo acompanhada por um público crescente no município de Ibiúna. Atualmente, basta que passe apenas uma breve mensagem desejando bom-dia para, logo em seguida, receber grande número de retribuições.

Na verdade, Fatima Alessandra se tornou uma personagem reconhecida nas ruas. Certa vez, chamada por moradores de um bairro, para divulgar um problema na estrada, foi recebida como uma celebridade, com direito a uma mesa com bolo, salgadinhos e carinho das pessoas. A jornalista recebe entre 15 a 20 pedidos de cobertura por dia, mas em geral somente consegue atender três ou quatro, por conta do limite humano dentro do vasto território ibiunense com 1.058 km2.

Mas suas postagens são tantas que parece que ela tem o dom de estar em todos os lugares ao mesmo tempo. “Estou antenada quase o dia todo, buscando e recebendo informações.” É verdade! Fátima Alessandra tem diagnóstico de TDAH. Ela é capaz de ficar horas sem se alimentar, pois se envolve com os temas que está tratando de tal modo que se esquece de si mesma. “Não lembro que tenho que comer.”

O “Fala Ibiúna” foi ao ar pela primeira vez no dia 2 de dezembro de 2020. Tratava-se de um problema relacionado ao lixo acumulado em uma rua.

AMOR E MISSÃO

Fátima: a população tem direito à informação

Segundo sua própria avaliação, o fato de ser bióloga e treinada para realizar investigações em profundidade, e exercitar seu senso estético e sensibilidade como artista plástica contribuem decisivamente em sua atuação como profissional de comunicação.

“Amo Ibiúna e percebo que o município tem um potencial fenomenal, mas os administradores precisam parar de maquiar as informações à população. Passam a impressão de estarem fazendo muitas coisas que parecem nunca terminar, enquanto vejo o povo sofrendo.”

“Minha missão é informar a população, com notícias boas ou ruins, a fim de que, por meio do conhecimento do que acontece, possa exercer seus direitos. A população ibiunense é boa e carente de informações.”

Perguntada sobre seus desejos para Ibiúna:

“Desejo que Ibiúna se desenvolva com saúde, proteção da natureza, criação de empregos, mas que ela não se torne uma cidade grande, no sentido do que se observa nos grandes centros em termos de violência, impessoalidade e trânsito.”

Dronista, Fátima Alessandra somente sai para a rua depois de verificar se suas ferramentas de trabalho estão funcionando: drone, celular, câmera, iluminação. No trabalho tem o apoio de comunicação visual do seu motolink Sivirino, ao qual agradece em suas narrativas, e um outro profissional da mesma área. Não raro, usa uma bandana que oculta seus cabelos ruivos.

AMEAÇA E BO

Mas nem tudo são flores na vida dessa mulher hiperativa. Depois de receber ofensas por palavras de baixo calão de um comissionado que trabalha na Prefeitura, registrou um BO na Delegacia de Polícia de Ibiúna por “injúria e difamação”.

Isto depois de postar uma notícia de um sepultamento no cemitério do Alto da Figueira. foi novamente alvo de ataques pelo mesmo personagem e, neste caso, teve o apoio de um jornalista ibiunense que atualmente trabalha em Sorocaba.

Após isso, o mesmo personagem, em um grupo social de artistas, postou injúrias a ambos, mas agora os ataques vieram com ameaças. Ambos registraram novo BO. A Jornalista estuda entrar com uma ação indenizatória contra a Prefeitura devido à gravidade da constrangedora situação. Fátima Alessandra evoca o fato de ser mulher e esta condição estar sendo alvo de notórias violências em todo o país.

Depois desses acontecimentos, a jornalista somente vai trabalhar acompanhada de um segurança para resguardar sua integridade física.

Fátima Alessandra, no entanto, afirma que continuará com seu amor e dedicação aos munícipes de Ibiúna, considerando que cumpre um relevante papel para toda a sociedade.

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

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