PALAVRAS E IMAGENS

Confesso que nunca me vi tão perdido como cidadão brasileiro, como nestas vésperas da eleição presidencial. Creio, no entanto, por ouvir muitas pessoas, que pareço não estar só nessa lamentável situação. Nunca tinha visto tantas palavras e imagens a serviço da mentira! Da mesma forma, jamais vi uma larga parcela da população ser levada por tantas mentiras repetidas muitas vezes.

Dia 30, portanto, será um dia histórico e decisivo para o futuro da nação, integrada por 215 milhões de vidas. Tomara que a verdade se imponha com força e grandeza de seu nome, apesar do aparente caos reinante!

Repito: na minha longeva carreira como jornalista da imprensa nacional, regional e local nunca vi uma situação periclitante como a que estamos vivenciando. E gostaria mesmo de estar equivocado com as interpretações que tenho feito, como acontece quando uma pessoa sofre de deficiência auditiva e confunde os sons que chegam aos seus ouvidos.

Igualmente, tenho evocado mais Deus do que nunca porque Ele é a esperança quando os homens entram em delírio irresponsável, na insana busca do poder a qualquer preço, não importa o que tenha acontecido, com vidas perdidas pela Covid-19, famintos aos milhões e desemprego que tem levado muitos chefes de família ao desespero e à loucura.

Como as dores são sempre singulares, seja no ambiente familiar ou nos hospitais, elas se dissolvem no anonimato e desaparecem no indescritível cenário do sofrimento vividos por irmãos.

E se me permitem lembrar uma frase latina, aqui vai: “Sic transit gloria mundi”, que significa “toda a glória do mundo é transitória”, e parece ser exatamente assim que os poderosos enxergam a humanidade que, por isso mesmo, é tratada com cínico desprezo. “Já que é assim, dizem, é melhor tirar o melhor proveito possível da existência” e, danem-se os aflitos, os desvalidos, os que precisam ter uma vida digna.

“Tem que mentir mesmo”, bradam sem o menor escrúpulo. Tirar proveito é exatamente conquistar poder e riqueza à custa do sofrimento alheio, que são milhões e milhões de seres, ricos em carências e que flutuam como garrafa lançada ao mar com uma mensagem alvissareira e, quem sabe?, pode ser encontrada na areia de uma praia por um menino que desperta sua curiosidade.

Nunca precisei ser persuadido, por palavras e imagens, a decidir em quem voltar. Óbvio, tive decepções porque quando alguém é levado ao poder está sujeito a mudanças de caráter, ou, ainda melhor, revelar seu caráter que já continha em germe tendências para a maldade.

Uma imensa nuvem flutua sobre os céus do país. Pode ser que vem aí um temporal, mas também pode ser que bons ventos a soprem para longe e que vai raiar um novo sol, um novo resplendor do Brasil. (C.R.)

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *