MESA A SER ELEITA DA CÂMARA MUNICIPAL DEVE FIRMAR COMPROMISSO COM OS NOVOS TEMPOS

Até o dia 12 de dezembro, data da última sessão do ano, os vereadores deverão eleger a nova mesa diretora da Câmara Municipal de Ibiúna. Se não houver nenhuma surpresa, até agora, aparentemente, há quatro postulantes ao cargo de presidente: Abel Rodrigues de Camargo (Abel do Cupim), que acaba de trocar o PMDB pelo PS (Partido Solidariedade); Dalberon Arrais Matias (PPS); Odir Vieira Bastos (PSC) e Leôncio Ribeiro da Costa (PDT).

Dos quatro possíveis postulantes Arrais, Odir e Abel integram o time de vereadores novatos, pois Leôncio já ocupara a cadeira de vereador. No total, são onze os edis pela primeira vez, que tiveram uma atuação bastante discreta, cautelosa e de notória aprendizagem e prudência neste primeiro ano de mandato.

O advogado Dalberon Arrais Matias, que atuou e atua muito próximo da vereadora Rozi Soares Machado (PV), marcou o início de suas atividades alfinetando o governo anterior por manter intocável a gestão do sistema de saúde, particularmente do Hospital Municipal, administrado então pela empresa Ibis, que considerava lesiva para a população (falta de médicos, de atendimento adequado, de medicamentos, má gestão, etc.). A partir daí prosseguiu como um dos vereadores que mais provocaram o governo Eduardo Anselmo com requerimentos. “Cumpri e continuarei cumprindo rigorosamente meu papel de fiscalizar os atos do Executivo”, ratificou o parlamentar. O mesmo papel foi desempenhado com destaque pela vereadora Rozi Soares Machado, que denunciou uma possível fraude na entrega de pedras na Garagem, que provocou repercussão na cidade. Rozi tem se empenhado particularmente ao setor da saúde, com que tem afinidade profissional por ser farmacêutica.

No geral, os vereadores cumpriram, na medida do possível, a tabela de modo tradicional e é preciso mesmo ser condescendente com os iniciantes que, se espera, vão aproveitar o recesso próximo para descansar e dar corda em seus relógios biológicos para vir com mais confiança e toda força no próximo ano. Sob a presidência também de um jovem e esperto novato, Carlinhos Marques (PT), a atuação da Câmara foi marcada por uma folgada maioria (11 a 4) em favor do então ex-prefeito. Essa estrutura de poder foi quebrada com a posse do novo prefeito e é exatamente por esse fato novo que a eleição da próxima mesa se transforma em oportunidade para que haja uma quebra de viciosidade nas relações entre Executivo e Legislativo. Se é que isso é possível na atual conjuntura!

Espera-se, por exemplo, que o próximo presidente enxergue com clareza a totalidade e implicações futuras dos fatos políticos e econômicos que caracterizam o município de Ibiúna – que precisa, mais do que nunca, recuperar o tempo perdido nos dois últimos governos, que fez descrer a população ainda mais da política como forma de organização de uma cidade.

Será preciso que alguns edis consigam enfim melhorar sua atuação indo além do simples “sim” ou “não”, considerados verdadeiros discursos sintéticos, mas muito aquém do que se espera de um representante do povo no Legislativo.

Logo após a posse do novo prefeito, sobretudo por parte dos vereadores veteranos, ao ver o poder escapulir de suas mãos tiveram que reverter o comportamento de forma imediata e passaram a defender (como se isso fosse necessário) o poder institucional da Casa, apontando que estava sendo alvo do “desprezo” do Executivo. O instrumento utilizado então foi o mesmo de sempre: enviar requerimento atrás de requerimentos, o que é uma ação normal, mas que precisam ser elaborados sem rancor.

O futuro presidente da Casa assim como seus colegas de mesa e as comissões de trabalho específicas devem ter em mente que política é sempre uma relação dialética, isto é, de contradições que se vão superando, enquanto outras surgem de modo contínuo. Isso exige conhecimento, experiência e maturidade política, coerência ética e moral, coragem e confiança. Isto significa formular uma visão criativa do processo legislativo.

E, por fim, nunca é demais lembrar: os tempos são outros e muitas mãnhas e jogadas tradicionais já não funcionam como antes; basta andar de ônibus e ouvir as conversas e as opiniões que o povo emite. Lógico, que políticos matreiros não acreditam que isso possa ser verdade, porque, como me disseram alguns repetidamente: “O que decide é o povo da roça e esse é mais fácil (!) de ‘convencer’.” (C.R.)

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.