GARANHÃO DO PORSCHE AMARELO ESTÁ LONGE DE SER CASO ISOLADO NO BRASIL

À custa do trabalho e dos impostos pagos pela população paulistana, Luís Alexandre Cardoso Magalhães, sem nenhum pudor, diante das câmeras do Fantástico exibido dia 24, disse que não poderia ir de casa em casa das garotas de programa com as quais manteve relações para pedir o dinheiro de volta, para que pudesse devolver aos cofres da prefeitura.

Ele é um dos auditores fiscais que participaram de um esquema de corrupção que embolsou R$ 500 milhões, durante o governo Kassab, fazendo deduções irregulares de Imposto Sobre Serviços – ISS devidos por construtoras.

Ele que estava preso foi liberado por se oferecer para colaborar com as investigações por meio de delações. Seu patrimônio não declarado foi estimado entre R$ 8 a 15 milhões, impossível de ser acumulado com o salário que ganhava por mês.

Sua imagem foi exaltada pela mídia sobretudo a partir do momento em que apareceu como “dono” de um Porsche amarelo e pelas declarações feitas à TV, perante milhões de telespectadores, em uma noite dominical: Cada um dos seus comparsas tinha a sua compulsão.”A minha era sexo”, declarou, afirmando que “gastava de R$ 8 mil a R$ 10 mil por noite”. Além desses prazeres custeados pelo povo, tinha outros como alugar jato particular para viajar para Angra dos Reis, no sul do Estado do Rio de Janeiro, onde tem ou tinha uma lancha, sempre brindada por mulheres. “Gastei o dinheiro com diversão”, disse refletindo um sentimento de quem não teve nenhum trabalho para conquistá-lo, a não ser o de usar as brechas e as “cegueiras” das estruturas públicas brasileiras que permitem ou facilitam esses tipos de operações.

O garanhão do Porsche amarelo está longe de ser único. Há muitos outros, centenas ou milhares no Brasil afora, que igualmente incluem até castelos, iates, jatos, helicópteros, Porsches, BMW, Mercedes, porque a bandidagem de “alto nível” não quer e não deixa por menos: quer luxo, ostentação, prazer e não sente o menor remorso, porque ultrapassam a ética e a moral e riem, quando bêbados ou drogados, dos “otários” que acreditam em decência, no trabalho, em honestidade, em respeito. Num país de anões, mensalões e toda sorte de fraudes que envolvem grandes empresas, incluindo multinacionais, essas criaturas com DNA de safardanas só pensam em dinheiro e prazer, desfrutados de festas em mansões protegidas por seguranças e afastadas do acesso popular e da imprensa mais atrevida.

Esses personagens possuem um jeito característico de se expressar. Basta ouvi-los com atenção e acompanhar seus gestos para perceber o quanto são levianos, dissimulados e mentirosos. Eles riem até dos deuses, quando estão sóbrios. Pior de tudo, como acontece com criminosos comuns (miseráveis) que sabem que logo estarão fora da cadeia, apostam que acumularam o suficiente para, assim que o assunto for esquecido, continuar tirando proveito do produto do roubo. Será que os resultados do julgamento do mensalão, como um sinal dos tempos, ajudarão a minimizar um pouco esse comportamento de marginais também conhecidos pela sociologia de criminosos de “colarinhos brancos”?

Millôr Fernandes parece ter sido profético em uma de suas muitas frases irônicas: “O negócio é roubar o suficiente para provar sua inocência.” (C.R.)

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.