PROTAGONISMO DE TRUMP É PÓS-HOLLYWOODIANO

Ouso, daqui do meu observatório instalado no alto de uma arborizada colina ibiunense, dar o meu pitaco sobre o que poderá acontecer ao planeta com a posse do presidente Donald Trump, 78, e seus rompantes verbais de extremismo autoritário, levando em consideração suas palavras e primeiros atos oficiais.

Ele é o 47º presidente dos Estados Unidos da América e tomou posse na segunda-feira (20).

Pelo que observo em seus primeiros atos oficiais, ele se coloca abaixo apenas de Deus [estava ao seu lado, a primeira dama, com um estranho chapéu preto, e uma Bíblia na mão?] e se transforma em soberano do universo para tornar seu ímpeto uma temida catástrofe de proporções jamais vistas antes pela humanidade?

Para quem tem memória curta da sistêmica narrativa da História, como é o nosso caso, recordar a revolução que engendrou o surgimento das Repúblicas Socialistas Soviéticas e a brutal crueldade praticada por Stalin que resultou na morte milhões de pessoas, entre as quais muitas humildes, mortes produzidas pelo excesso de poder nas mãos de um único homem, parece oportuno.

E o que dizer da Alemanha, cuja população, aturdida com suas dificuldades existenciais e os medos instilados por uma propaganda praticada como lavagem cerebral, se deixou levar pela manipulação do poderoso Hiltler e que resultou em milhões de mortes. E de Mussolini, na Itália, que teve um fim horrososo?

Em suma, é triste constatar que todo um povo, pelo menos a maioria dele, não raro pode ser conduzido como uma manada pelas mais perversas formas de manipulação mental, a partir, da imposição do medo generalizado, tornando as pessoas inseguras e submissas a se prostrarem diante de mentes monstruosamente necrofílicas.

A primeira e a segunda guerras mundiais transformaram o mundo, não para gerar melhorias nas condições de vida sobre a superfície da terra, mas para marcar o mito de que o homem na essência é um animal bestial ambicioso e inconsequente com as dores que afligem os outros. Quer, e, muitas vezes toma, suas posses, suas terras, suas mulheres.

O que será então da vida de uma infinidade de pessoas que vivem e trabalham nas terras do Tio Sam, famílias inteiras de imigrantes apavoradas com o desterro iminente? O que será do clima na terra com um planeta que se esgota com a degradação de sua atmosfera sufocada pela poluição, já que o objetivo é dominar o mundo, custe o que custar?

O que significa evocar Deus, se o que se tem por dentro, as verdadeiras intenções ocultas, é um desejo de conquistar a qualquer preço, dane-se a moralidade?

 “Nós não precisamos dos outros; os outros é que precisam de nós.”

Ele o disse publicamente. Imagine-se o quanto de arrogância e poder sustentam essa afirmação, para provocar medo nas nações mais frágeis, mas, talvez, não o suficiente nas poderosas, no sentido bélico nuclear.

Singelamente, podemos estar diante de um projeto megalômano e, me permita a psicologia, narcisista, que se insere no maior dos desejos humanos – para suplantar o estigma da finitude e da morte – o desejo de poder. E a sensação de prazer temporário despertado por sua conquista.   Há, de fato, uma teoria que justifica a aquisição do poder como um dos arquétipos mais atraentes para os seres humanos.

Não foi por acaso que, ao se afastar de Deus, por meio da razão, e da natureza, esta se tornou objeto de sua dominação, em vez de um motivo para o estabelecimento de uma relação harmoniosa porque, afinal, tudo e todos fazemos parte dela. O que acontece com a natureza naturalmente nos envolve.

Mas, enfim, a esperança, sempre a esperança, reside no fato, apesar das aparências, de que nem tudo está perdido. A vida inteligente no planeta, depois de zilhões de  voltas em torno do Sol, a Terra, Gaia, dará um jeito de se livrar de tantas desordens. Será que isso já começou a acontecer por meio dos fenômenos climáticos?

Há, em suma, uma inteligência natural, silenciosa, a favor da vida. Quando uma simples formiguinha se finge de morta para se livrar de uma ameaça iminente contra a sua vida, aí está um princípio que nos faz lembrar da inteligência divina, embora todo adulto equilibrado e observador deva saber como terminam todas as histórias, inclusive a de homens poderosos que querem abraçar soberanamente a eternidade, uma clara impossibilidade.

Afinal, considerando a natureza da mente humana e sua extrema complexidade, muitas pessoas experientes têm doado sabedoria ao mundo para quem quiser saber e experimentar.

A notícia saudável é clara: é melhor ter pensamentos bons do que pensamentos ruins e negativos. É melhor amar do que odiar. É melhor compreender do que não tolerar. E isso vale para cada um de nós e para todos nós.

Bem, a humildade convoca este escriba para que reconsidere tudo o que foi dito antes, porque é possível que Trump tenha sido protagonista do que os franceses denominam mise em scène.

Ou seja: terá se apresentado em cena, com pompa e circunstância, para representar um grande espetáculo mundial pós-hollwoodiano. Talvez se incluam aí posturas desenhadas por especialistas em marketing político, para marcar simbolicamente uma forma de expressar poder simpática ao público interno, os norte-americanos, e lançar ao universo o desejo de reconfigurar seu histórico papel hegemônico. Afinal o dólar e o idioma inglês têm circulação livre por toda a parte!

A propósito, o ritual da posse no Capitólio, num dia congelante, em Washington, em um luxuoso almoço para seiscentas pessoas, personalidades ilustríssimas, como ex-presidentes, faz lembrar a importância das relações sociais na contenção de gestos extremos. Assim, esperamos!  (Carlos Rossini é jornalista e sociólogo)  

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

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