MENÇÃO FEITA À “VITRINE ONLINE” PELO JORNAL “VOZ DE IBIÚNA” É EQUIVOCADA E PRESUNÇOSA

O texto da manchete do jornal “Voz de Ibiúna” [edição 309, 7.12.2013] que noticia a posse do professor Eduardo como prefeito faz a seguinte menção, no seu trecho final, à revista vitrine online: “Já o ex-secretário de Assuntos Jurídicos, Douglas Bigarelli, havia garantido à revista Vitrine Ibiúna, que a situação do governo em Ibiúna estava definida. A reportagem da Revista, entretanto, não ouviu a outra versão da história, promovendo, o que se chama em jornalismo, de ‘barriga’, termo usado para designar matéria com informações falsas ou erradas.”

Essa citação reflete tanto equívoco do seu autor, que deve conhecer jornalismo “pela rama” [superficialmente], quanto a presunção de julgar algo por perspectiva facciosa.

Só há “barriga” quando o fato noticiado não ocorreu e este não foi o caso. Uma autoridade governamental convidou jornalistas, concedeu entrevista a vários jornalistas [que foi fotografada em lugar certo, filmada e gravada]. Se outro evento ocorreria à noitinha [a surpreendente reposse de Eduardo] teria de ser tratado como tal. A revista vitrine online, portanto, publicou corretamente a cobertura de ambos os fatos como pode ser confirmado em suas páginas. Mas o jornal “Voz de Ibiúna” não cobriu o primeiro evento, como se não tivesse ocorrido. Isso está longe do que se apregoa como jornalismo imparcial, democrático e verdadeiro. O jornal não “‘quis” ver que a contradição não se encontra na revista, mas sim nos fatos da vida real.

Vou citar agora, para que também os leitores desfrutem dessa informação, a que foi considerada historicamente a maior “barriga” ocorrida na imprensa brasileira.

No dia 27 de abril de 1983, com base num texto publicado pela revista britânica “New Scientist”, a famosa revista Veja publicou notícia, sob o título, Boimate, informando que cientistas alemães haviam criado um ser híbrido da mistura do boi com tomate. Esse fato nunca existiu, tratava-se de uma brincadeira. Isso é “barriga”, não o que pretende o jornal “A Voz de Ibiúna” com sua visão míope. Na ocasião também a revista norte-americana Omni publicou a “barriga”, com repercussão no Congresso norte-americano. Senadores chegaram a manifestar preocupação sobre “os perigos da engenharia genética”. Isso ocorreu há trinta anos e só está aqui exposto para que os leitores entendam melhor a diferença editorial qualitativa entre um veículo  de comunicação e outro.

Já que esse inesperado assédio nos foi dirigido, tomamos a liberdade de comentar sobre o “Voz de Ibiúna”. Trata-se de um jornal cujos proprietários estão notoriamente comprometidos com um partido político (PT), que realiza suas reuniões na redação desse mesmo jornal, que integram diretamente um grupo de poder, que assacam contra uma revista fiel aos princípios universais do jornalismo.

O próprio jornal, quando em agosto o juiz Bruno Luiz Cassiolato negou recurso do ex-prefeito Fábio Bello, suspendendo a contagem de votos e, portanto, a cerimônia de sua diplomação, celebrou convictamente que, enfim, o professor Eduardo poderia iniciar seu governo sem mais entraves [edição 306, de 29 de agosto de 2013]. Dias depois o juiz Wendell Lopes Barbosa de Souza, seguindo determinações superiores, marcava a recontagem dos votos e anunciava a vitória de Bello que, em seguida, no dia 6 de setembro, tomava posse na Câmara Municipal, da mesma forma como ocorreu na última sexta-feira com Eduardo Anselmo. Nem por isso dissemos que o jornal tinha cometido uma “barriga”, porque compreendemos a natureza, a singularidade e a dinâmica dos fatos que, aparentemente, poderá (a dinâmica) nos trazer novas surpresas. A situação político-eleitoral ibiunense vem apresentando uma anomalia que deve merecer profunda reflexão de toda a sociedade, que, aparentemente, desacredita cada vez mais com as instituições públicas. (C.R.)

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.