“Ignorância virou moda”, afirma neurocientista na TV Cultura

Miguel Nicolelis (64) é um médico brasileiro, paulistano, considerado um dos vinte maiores cientistas do mundo em sua especialidade no campo da neurociência.

Nesta segunda-feira (28) ele, como sempre brilhante e afiado em suas análises, foi o entrevistado do programa Roda Viva transmitido pela TV Cultura.

Seu depoimento sobre os efeitos da chamada “telinha”, especialmente celulares, no cérebro das pessoas disponibilizou dados alarmantes e dignos de serem conhecidos e serem refletidos para aqueles que ainda não tiverem suas mentes “pulverizadas”.

[Assista ao vídeo completo na TV Cultura – Programa “Roda Viva”.]

‘A INTELIGÊNCIA NÃO É ARTIFICIAL’

Em seu posicionamento já conhecido, Nicolelis afirma que “a IA não possui verdadeira inteligência, visto que esta é uma propriedade dos organismos e que tampouco pode ser considerada completamente artificial, dada a sua dependência da criatividade e do intelecto humano”. Em suma: ela é  criada pelo ser humano.

De forma mais categórica, ele sacramentou em uma entrevista: “É impossível que a IA se torne melhor que o cérebro.”

Autor de vários livros e conectado com inúmeros cientistas do planeta, Nicolelis considera que “a IA é extremamente útil em certos ramos, como análise estatística e mineração de dados [uma técnica assistida por computador usada em análise para processar e explorar grandes conjuntos de dados], mas não pode imitar a inteligência humana”.

EFEITOS SOBRE O CÉREBRO

O neurocientista, diante de uma bancada de vários entrevistadores, apresentou a alegação de que redes sociais criaram um exército de ignorantes. “Eu não sou tão sarcástico a esse ponto, mas eu diria a ignorância virou moda. A nossa cultura não foi destruída, mas foi pulverizada porque é muito mais rápido você ter o reconhecimento falando bobagem.”

‘FAKE NEWS É UM VÍRUS’

“Eu não tenho as provas, mas tem gente que alega que parte da ideologia por trás das redes sociais é exatamente isso: criar uma sociedade de imbecis, uma sociedade de pessoas que não conseguem discernir entre o que é real do que é absolutamente fútil e o que é fundamental para a sobrevivência da nossa espécie”, comentou acrescentando:

“Esta é minha definição de um vírus informacional: é um pacote de informações falsas, fake news , como a gente chama, que infecta o cérebro de milhões de pessoas por meios de comunicação na velocidade da luz que é o  que nós temos hoje.”

“Por exemplo, você vê o que está acontecendo nos Estados Unidos. Hoje a vasta maioria dos seguidores do atual presidente norte-americano não acredita nos fatos, não acredita nos dados, não acredita no que se vê na televisão ao vivo e é isso que ele [vírus] faz: cria toda uma cadeia de disseminação do irreal.”

“PERDA DA MEMÓRIA”

Uma das severas consequências desse fenômeno, segundo o neurocientista, é a perda da memória e da cognição. [As pessoas] deixam de pensar por conta própria e se tornam dependentes do Google, do ChatGPT.

Não nego a vantagens e os benefícios da tecnologia, mas a gente tem que entender os riscos à nossa sobrevivência que nós corremos ao delegarmos as nossas funções cognitivas a ela.

CHATGPT.

O ChatGPT [sigla em  inlês de Chat Generative Pre-trained Transformer], lançado pela OpenAI em novembro de 2022,  é um modelo de linguagem de inteligência artificial desenvolvido pela própria OpenAI, projetado para gerar texto de forma natural e coerente, simulando uma conversa com um humano. Ele é capaz de responder a perguntas, fornecer informações, gerar texto criativo e realizar diversas tarefas de linguagem.

MODELO DE LINGUAGEM

O ChatGPT é um modelo de linguagem grande, o que significa que foi treinado em uma quantidade massiva de dados de texto para aprender a reconhecer padrões e estruturas na linguagem humana.

É notável nesse aspecto a entrega da criatividade das pessoas que fazem pedidos para terem teses, livros, artigos, títulos, currículos, cartas e ficam esperando a resposta vir pronta, tendo utilizado apenas alguns neurônios para fazer a encomenda. (C.R.)

No meio da Roda Viva, Miguel Nicolelis fez advertências da maior importância para a sobrevivência humana

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

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