FAMILIARES DE BRUNA ENVIAM MENSAGENS DOLENTES; UMA VEIO DO JAPÃO

“Meu amigo sr. Carlos Rossini através da presente venho agradecer pelo carinho e apoio da matéria, em que a minha sobrinha foi vítima de um acidente causado pelo condutor que estava super embriagado Sr FÁBIO Toshio Rodrigues Tamaishi (a ser investigado). Sou tio-avô por parte da querida BRUNA e quero agradecer de público o seu apoio total através de Vossa senhoria o meu muito obrigado e que Deus abençoe a todos principalmente aos pais do senhor FÁBIO TAMAISHI, que sabem o que fazem!!!” – Cesar Ossamu Anno

Mensagem da tia, do Japão 

“Olá! Sou Lilian Yamamoto, tia da Bruna Yamamoto, sou casada com Marcio Yamamoto, irmão do pai da Bruna, o Alan.  Moramos no Japão e não pudemos ir ao Brasil agora prestar nossas homenagens a nossa amada sobrinha,mas nosso filho Igor foi acompanhando o Alan. Gostaria, se possível, que publicassem uma homenagem nossa. Desde já agradecemos.

Tenho pensado não só no meu sofrimento, mas tenho me perguntado COMO os pais da Bruna vão fazer para suportar esse enorme sofrimento. Preencher um buraco, um vazio tão imenso que é a perda dessa filha tão querida e amada por eles.

Todos os planos, alegrias e sonhos ficaram desfeitos.

É desnecessário narrar a dor de todos, o susto e o vazio que ficou em nossas vidas. Desde então venho tentando compreender como se vive depois que perdemos um filho?

O que fazer com a dor e o vazio? Quem responsabilizar?

Deus, o motorista do carro, o diabo?

Seria destino ou fatalidade? Era pra ser dessa forma?

Havia chegado a hora? Quem culpar e como se consolar?

Agora, com o falecimento da Bruna, eu estou à procura de respostas, mas no fundo eu busco algo que diminua minha dor e a dor fica maior cada vez que eu me coloco no lugar dos meus cunhados e fico perguntando e perdida em tanta dor, Foi uma morte absurda, uma fatalidade, eu sei, mas fruto de uma negligência humana.

O motorista que matou a Bruna  não podia dirigir naquela velocidade e nem alcoolizado.

Se a regra tivesse sido obedecida, a história talvez pudesse ter sido outra. Minha sobrinha estaria viva.

Muitas pessoas durante o velório com certeza tentaram consolar a família com aquelas frases feitas: “Deus sabe o que faz, chegou a hora”.

Tentar consolar assim é uma tentativa de calar o choro que nos incomoda, pois não queremos ninguém triste ao nosso lado. A tristeza do próximo nos chama atenção para nossas tristezas e nem sempre temos coragem de enfrentar as desarmonias de nosso mundo pessoal.

Deus sabe mesmo, eu concordo! Quem não sabe, somos nós.

Chegou a hora coisa nenhuma! A vida e a morte estão em nossas mãos.

Jesus na Bíblia, ao dizer que não cai um fio de cabelo de nossa cabeça sem a permissão do Pai do Céu, não se refere a acidentes absurdos como esse. Pessoas que usaram essas explicações como formas de consolo para aliviar a dor alheia, fortalecem o ateísmo no mundo.

De Deus não nascem tragédias.

Não posso conceber que Deus tenha criado a Bruna para que morresse naquele terrível acidente. Não posso crer que Deus possuísse um plano que consistisse em vitimar  a Bruna no auge de sua vida, no momento em que ela estava tão feliz com tantos planos e sonhos. Ao usar essas frases, como forma de consolo aos que sofrem em uma hora dessa de perda, é como afirmar que Deus não é bom, mas, um carrasco cruel. Ainda insisto e prefiro acreditar que a morte da Bruna foi fruto de uma negligência humana.Creio que enquanto nós chorávamos aquela fatalidade, Deus chorava conosco.Mais uma vez a irresponsabilidade humana prevaleceu.

Deus perdeu, do mesmo jeito que nós.Mas por que ele, sendo Deus não evitou o acidente?

Porque ele não desrespeita as ordens que damos ao mundo. Ao trafegar naquela velocidade e com irresponsabilidade, o motorista deu uma ordem ao mundo sobre a qual Deus não pode interferir. O que fazemos, por menor que seja, repercute mais cedo ou mais tarde.

A negligência daquele motorista prevaleceu e, por isso, causou a morte da minha sobrinha. Se alguém tivesse agido por Deus e alertado a Bruna que aquele rapaz não estava em condições de dirigir ou chamasse a atenção do motorista, quem sabe assim  teria evitado o acidente.

Deus teria agido Não por meio de uma intervenção sobrenatural, mas por meio de um cuidado humano, movido por um desejo de reorganizar o mundo, alertando o motorista sobre o perigo de dirigir em velocidade e alcoolizado.

Naquele momento em que minha sobrinha morria, outras milhares de pessoas morriam no mundo por causa de outras negligências humanas. E como deveria ser?

Deus teria que mudar o destino de todas essas pessoas? E a nossa liberdade humana? Deus teria que viver então a nossa vida por nós?

Nossos pais biológicos não assumem nossas responsabilidades, eles apenas nos orientam, mas não vivem por nós.Então por que exigir isso de Deus, o nosso pai? Deus nos orienta através de nossa fé, através da Bíblia. O resto é responsabilidade que devemos assumir.

A morte da Bruna nos abateu muito. Creio que o meu cunhado Alan e a Claudia não vão querer se deixar levar pelas respostas mágicas oferecidas a eles.

Eles ainda acham que a Bruna morreu antes da hora. Deus não pôde evitar o acidente, mas dará forças para que eles permaneçam de pé.

Eles não precisarão culpar Deus para conviverem com a tristeza e com a ausência deixada por ela. Não perderão a fé e nem a esperança. Muitas vezes a saudade será maior que eles. Não esconderão o choro quando sentirem necessidade de chorar.

Eles choram e muito, pois o choro purifica. Nunca colocarão culpa nos ombros de Deus, por mais que a força da saudade traga o desejo de ver chegar à porta a filha deles, tão alegre e brincalhona que era minha sobrinha. Sempre linda, sorridente, falante…

Culpar alguém não aliviara essa dor e essa saudade. Mas esperamos que seja feita justiça.

A lembrança da Bruna bate em minha porta todos os dias junto com a saudade. Que Deus nos ampare e nos ajude a suportar essa dor.”

* do livro “Quando o sofrimento bater a sua porta”.

 

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.