BRASIL VAI ÀS URNAS DIVIDIDO NO DOMINGO EM UMA EMOCIONANTE ELEIÇÃO PRESIDENCIAL

O último debate entre os dois candidatos à Presidência da República, Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB), hoje à noite na TV Globo – esperado como derradeira oportunidade para ambos convencerem os eleitores, sobretudo os indecisos, que podem fazer a diferença – deverá apresentar, de um lado, uma candidata “animada” pelos resultados das últimas pesquisas Data Folha e Ibope e, de outro, um candidato que precisará esquecê-la efetivamente como foco de suas argumentações. Aécio precisará estar atuado, em estado de graça, para falar diretamente com corações e mentes dos eleitores de todo o Brasil, como um apaixonado faz uma ardente e infalível declaração de amor à sua amada.

O PT acaba de disseminar um “factóide” insinuando que Aécio, no face a face com Dilma, deverá partir para o debate com os dentes transformados em “faca”. E é exatamente isso que o tucano não deverá fazer, pois numa campanha sempre existe o imponderável, como ocorreu, em 1988, com a eleição da então petista Heloísa Erundina, 80, [com vantagem de 270 mil votos] à prefeitura de São Paulo, contrariando todas as pesquisas que davam a vitória certa a Paulo Maluf que ficou em segundo lugar.

O mais relevante, parece, é o fato de o País ir às urnas dividido entre dois partidos que cometeram muitos pecados, pois não há na política nada que se possa chamar de “inocência”. Houve corrupção praticada por ambos, ainda que o PT tenha feito uma marca de corrupção histórica, com seu mensalão tremendo, desvios de verbas, superfaturamento de obras e, por fim, o mais recente escândalo vindo à público centrado na Petrobrás, a maior empresa do Brasil, que não poderia ser jamais ignorado pelos governantes petistas [a revista Veja anuncia que tanto Dilma quanto Lula sabiam de tudo], assim como a insistente denúncia petista de compra de votos de parlamentares para garantir a reeleição do tucano-mor, Fernando Henrique Cardoso.

A propaganda eleitoral de Dilma assumiu, com imagens exultantes da militância petista, um clima triunfal, embalado, como já foi dito, pelos resultados de pesquisas que lhe são favoráveis. Por isso mesmo, foram injetados na campanha de undécima hora pelo menos mais R$ 40 milhões, segundo se noticiou. Aécio, por seu turno, faz uma campanha mais modesta fundamentada no diálogo direto com os eleitores, demonstrando uma simplicidade que chega a ser comovente, diante das imagens carnavalescas em torno de sua adversária, que bombardeiam as telas da televisão. Que poder de persuasão terá tudo isso diante dos brasileiros em todas as regiões do Brasil? Os marqueteiros jogam todas as fichas na ignobilidade emocional e cultural da maioria da população deixada à margem do progresso humano.

Há evidências de que no plano subjetivo, os marqueteiros da Dilma “trabalham” o medo latente da população mais pobre de perder o Bolsa Família que no Nordeste conta muito ponto e é onde o eleitorado dilmístico é evidentemente maior, enquanto Aécio desfruta de melhor posição na região Sudeste mais rica, ainda que concentre bolsões de miséria nas periferias das grandes cidades como São Paulo e Rio de Janeiro.

Ambos os candidatos se posicionam com base na ideia de mudança, a petista em “novo governo, novas ideias” e o tucano, em “a verdadeira mudança para melhor”. Essa coincidência tem como embasamento comum a oceânica insatisfação dos brasileiros em relação à frustrante sucessão de governos anamórficos que parecem viver numa ilha da fantasia, muito distante dos brasis reais, Ou já teremos nos esquecido das manifestações ocorridas em junho de 2013, que provocou uma intensa movimentação emergencial no governo petista, com promessas de impacto que caíram, infelizmente, no esquecimento.

A saúde do Brasil continua péssima, falida, a educação sem rumo e sem qualidade, as estradas esburacadas, a violência absolutamente incontrolável, taxa de desemprego alta [é verdade que no governo FHC chegou a ser altíssima], obras inconclusas, denúncias de corrupção comprovadas, cambalachos sem fim.

Se encararmos a eleição como um ritual de passagem de um estado para o outro e é exatamente isso o que é, que este domingo seja luminoso e ajude a que os brasileiros tenham a melhor sorte possível e que decidam pela voz da coragem.

Em sua coluna na UOL publicada esta semana, o experiente jornalista Élio Gaspari sintetizou uma equação de ordem política: a eleição de fundo, na realidade, demonstrará se o povo brasileiro quer ou não a continuidade do PT no comando do País por mais quatro anos. É isso. (C.J.)

 

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.