UM OLHAR PARA IBIÚNA – BARCO EM QUE ESTAMOS PODE ESTAR À DERIVA

Segundo previsão do Climatempo [pode confirmar na vitrine online], hoje (27) o dia será nublado e poderá chover a qualquer hora e o barco onde todos estamos poderá balançar e provocar enjoos. O aspecto mais importante a ser considerado, entretanto, é outro. Sem leme funcionando, pois  seu eixo pode ter se partido, o barco parece seguir à deriva, o que significa que pode estar fora de controle. Como se sabe, um barco sem leme perde a proa, isto é, a direção.

É certo que a ninguém interessa alarmar os passageiros para onde poderemos estar indo e muito menos ficar imaginando o pior porque, não é demais repetir, todos estamos dentro dele. E, decididamente, todos queremos, ao invés, que o barco seja reparado e siga sua viagem em mar-de-almirante para a alegria e felicidade geral.

Nem todos, no entanto, ignoram a situação, ou porque são marinheiros ou porque já fizeram muitas viagens e conseguem perceber que algo está errado ou não funcionando como devia. Outros conseguem ouvir ruídos estranhos. Porém, parece não haver escolha e na sala do comando procuram-se formas para entreter os embarcados, até que chegue o socorro e a peça avariada seja substituída, mas isso leva tempo e exige mão de obra especializada e grande habilidade técnica e é preciso torcer para que o mecânico não esteja de cama por causa de uma virose ou alguma labirintite lhe esteja provocando tontura.

Já ninguém sabe se e quando  foi feita a última reforma no navio, se foi feita corretamente com os materiais requeridos pelas normas internacionais para meios de transporte dessa natureza. Talvez as grandes bielas do motor estejam gastas, haja válvulas avariadas e tampouco se sabe se o lastro teve que receber algum reparo. Mesmo a aparência do navio é pouco convincente, pois aponta ferrugens em muitos lugares, pintura desbotada, até mesmo seu nome está quase ilegível nas laterais do seu casco. Mas, aparentemente, sejamos otimistas, não há indícios de que possa afundar, embora os relatórios do mestre do porão venham apontando penetração de água em alguns compartimentos.

Um brasilianista que já viajou nesse barco há muito tempo guarda boas lembranças. “Mas aqueles eram outros tempos, havia mais inocência, os tripulantes eram educados e faziam de tudo para manter tudo em ordem e sentiam orgulho do que faziam para proporcionar o máximo de conforto aos passageiros”, diz ele com um sotaque novaiorquino. Já aposentado de sua cátedra, mas sem largar o velho hábito do cachimbo, comenta entre um gole e outro de chá: “É tudo podia ser tão diferente!”, possivelmente tentando traduzir o pensamento dos passageiros mais sensatos e bons observadores.

“Well”, ele diz, mas é bom que saibam reconhecer a importância do tempo, aqueles que assumem o comando de um navio. Isso porque o tempo sempre vai passando até que se chegue a algum lugar ou a lugar nenhum.

__________

Carlos Rossini é editor

de vitrine online

 

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.