‘QUEM PERDE A VERGONHA, NÃO TEM MAIS O QUE PERDER’

  É  isso aí: nunca se viu antes, na história do nosso país, tamanha falta de pudor. Sobretudo em boa parte de nossos políticos. Até parece que o nível de pudor deles baixou mais que o das águas em nossos reservatórios.
A palavra pudor vem do termo latino pudere,que significa ter vergonha.Ter pudor é ter vergonha de dizer ou fazer algo que possa ferir a decência.

         O pudor, originariamente, esteve mais ligado à decência no vestir. Assim, mulher que saísse por aí em roupas sucintas, era considerada despudorada, impudica e desavergonhada. Só que, o excesso de pudor no vestir, não raro, tem descambado para o rigorismo dos costumes, hipocrisia e puritanismo.
Pudor, porém, não se limita ao vestir. Ele abrange o senso de medida que nos possibilita evitar a vulgaridade e a corrupção, hoje tão em alta como nossos impostos. Em 2013 nossa carga tributária foi de 36% do PIB. Um recorde!
Assim, com tanto imposto e corrupção, a parte do corpo que nossos políticos deviam cobrir, já não é aquela que, costumeiramente, escondem, ou seja, o sexo.
Como observou o escritor satírico italiano Pietro Aretino (1492-1556),”escondemos nosso sexo e pomos à vista as mãos que roubam e matam e a boca que mente e jura em falso.”
Bem antes de Aretino, o grande orador romano Cícero (106-43 a.C.), ao criticar a corrupção dos políticos de seu tempo, exclamou:
“O tempora! o mores! ” (Ó tempos !ó costumes ! ) E, após Cícero, o poeta Marcial  (40-104 d.C.), ao criticar os costumes e hipocrisia dos romanos, com seu estilo um tanto licencioso, aconselhou a uma jovem pudica:

“Narrat te rumor, Chione,
numquam esse fututam
atque nihil cuno purius
esse tuo.

Tecta tamen non hac, qua debes,
parte lavaris:
si pudor est, transfer subligar
in faciem.”

Eis a tradução:
“Corre o rumor, Quione: nunca
foste fodida
e nada mais puro existe que
tua vagina.

Nessa parte, que vestes ocultam,
nem te lavas:
Se é pudor, desnuda a vagina e
esconde a face.”

É o caso de dizer ao corrupto: “Se é pudor, desnuda o sexo e esconde a face”. Conselho inútil, pois, o cara, não tem vergonha de ser corrupto. E, como diz o adágio popular, “Quem perde a vergonha, não tem mais o que perder.” Assim é o cara-de-pau.

Claudino Piletti é professor-doutor em Pedagogia e autor de vários livros. Gaúcho de Bento Gonçalves, reside em Ibiúna há longa data com a família.

 

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.