ANSIEDADE PODE CAUSAR SÉRIAS DOENÇAS, MAS É INDISPENSÁVEL À VIDA

Frequentemente podemos nos iludir diante dos fatos da vida real. Ilusão significa tudo o que impede o ser humano de ver a realidade como ela é. E a causa desse fenômeno seria o fato de termos nossa atenção fortemente presa ao mundo material dos sentidos. Ou seja: nós vivemos na superfície da vida e, por isso mesmo, ficamos sujeitos a uma grande variedade de sofrimentos, incluindo a ansiedade, alastrada por toda a sociedade.

Ansiedade, no sentido de sofrimento, seria fruto de visões ilusórias (imaginárias, quiméricas) ou falta de clareza na percepção dos pensamentos e sentimentos que ocorrem dentro e fora de nossa mente. Mas existe uma ansiedade que é essencial para manter a pessoa viva desde os tempos dos nossos ancestrais, que nos alerta para os perigos e nos afasta deles, que nos move em direção à realização dos nossos sonhos, enfrentar os desafios e as incertezas da vida no dia a dia.

Especialista em ansiedade, o psicoterapeuta norte-americano Robert Gerzon, que já atendeu a milhares de pessoas – homens, mulheres e crianças – aponta o que ele denomina de “raiz dos problemas” trazidos ao seu consultório: “Problemas de relacionamento, angústia, insônia, estresse, depressão, nervosismo, falta de confiança, autossabotagem, doença física, maus hábitos, dependência e baixa autoestima.”

De todo modo, esse quadro posiciona a ansiedade como “sentimento de que nosso bem-estar está ameaçado” desde necessidades de autopreservação, às dificuldades cotidianas, como falta de dinheiro, saúde, relacionamentos complicados, incluindo até mesmo questões existenciais e filosóficas, ligadas à ideia da morte e ao significado da vida.

Em situações extremas ou crônicas – informa Gerson – a reação de alarme gerada pela ansiedade pode “ameaçar a vida do organismo que deveria proteger”. “Hormônios de estresse e de ansiedade inibem o sistema imunológico e acarretam um risco maior de doenças, tanto a curto prazo (gripes, dores de cabeça, problemas gastrointestinais e menstruais) quanto a longo prazo (enfermidades cardíacas, câncer e outras doenças degenerativas.” Todas essas consequências seriam resultado da “ausência de relaxamento fisiológico e de tranqüilidade mental”.

CONSCIÊNCIA

Se, como dissemos no início, vivemos na superfície da vida e, por isso, estamos “longe de nós mesmos” um caminho que se apresenta para lidar com a ansiedade é seguir em direção à consciência. Uma das descobertas positivas é saber que precisamos enfrentar o estresse com clareza, já que o que define seu poder sobre nós é exatamente a forma como reagimos a ele. Se atribuímos muito poder ao estresse (à ilusão) ele tende a nos dominar, como qualquer outro tipo de influência que busca nos atingir.

O conceito utilizado pelo psicoterapeuta norte-americano se inspira na sabedoria ensinada por Buda, palavra que significa “o desperto”: a ansiedade está nos dizendo alguma coisa e precisamos saber de maneira correta qual é o seu recado, para poder lidar com ela com o poder que temos. Lembre-se, não estamos nos referindo à ansiedade que nos enche de veneno e atormenta, mas à boa ansiedade, que nos ajuda até mesmo de evitar os perigos de atravessar uma rua.

Aparentemente, pelo que estudamos sobre o assunto, a libertação da ansiedade [muitas vezes é preciso de ajuda e orientação de especialistas] se dá pela tomada de consciência do indivíduo sobre sua situação de estar separado do resto do mundo, ser único e distinto, e ao mesmo tempo ter que se relacionar com os outros para viver e conviver. Mas isso tem o inconveniente de nos tornarmos livres e é exatamente esse o preço de sermos responsáveis por tudo o que acontece em nossas vidas, incluindo as ansiedades. Se usássemos a palavra medo, no lugar de ansiedade, estaríamos dizendo quase a mesma coisa: o medo não é sinal de covardia, é um guia para nossas vidas em cada instante. É um mestre para nossa percepção e tomadas de decisões.

SERENIDADE

Serenidade é o antídoto contra a ansiedade mórbida. Essa palavra latina tem um significado extraordinariamente preciso para o tema tratado neste artigo: clareza. Ao enxergar a vida com clareza [diferente de quem vê tudo superficialmente] sabemos para onde e como caminhar.

Em suma, nossa referência, o psicoterapeuta Gerzon, especialista em tratamento da ansiedade há anos, descobriu que a ansiedade era, ela própria, “a chave da transformação psicológica”.

Ele distinguiu três formas de ansiedades: ansiedade tóxica, ansiedade natural e ansiedade sagrada. Resumidamente, a ansiedade tóxica é a que inclui preocupação, pânico e desespero. A ansiedade natural é a que nos protege e nos ajuda a crescer, nos leva para êxito e realização pessoal. Serve de guia para nossas decisões e atitudes. A ansiedade sagrada “não pode ser tratada por medicamentos” é “a inquietação existencial” relacionada com Deus. Liga-se aos fatos essenciais da vida como “morte, vida após a morte, significado e propósito de nossas vidas”. Por Carlos Rossini, editor de vitrine online

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Para saber mais: Leia o livro “Encontrando a serenidade na era da ansiedade”; Robert Gerzon, Editora Objetiva.

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.