OPINIÃO – NATUREZA CÓSMICA MOSTRA QUE É PRECISO REINVENTAR A VIDA

A foto que você está vendo, leitor, é uma representação artística de um evento ocorrido a cerca de 3,8 milhões de anos-luz da Terra. Trata-se de um buraco negro devorando um astro, um sol do tamanho do nosso. A luz que se vê são flashes de raios-gama liberados pela estrela em seu processo de morte. Há poucos dias vimos algo ainda mais impressionante: um buraco negro de proporções inimagináveis engolindo uma galáxia inteira, ou seja, bilhões de estrelas. Então, entremos num acordo: vida e morte são dois fenômenos inesgotáveis que ocorrem em todo o Universo. Se você curtiu e ainda está tentando imaginar essa realidade, então voltemos para a nossa humilde condição humana onde vivemos.

Parece que nossos problemas existenciais imediatos ocupam rigorosamente a maior parte dos nossos pensamentos e preocupações – receber salário no fim do mês para pagar um rosário de muitas contas, encontrar um emprego, não permitir que a Cetril venha cortar indevidamente seu fornecimento de energia elétrica, defender-se da Vivo, decidir entre comprar uma carne de primeira ou de segunda ou comprar um par de sapatos novos, fazer uma redução do estômago mesmo não sendo obeso para ajudar na economia doméstica, cortar todos os cartões de crédito e nem chegar perto do cheque especial e a lista segue – e não nos permitem enxergar uma realidade superior que rege nossas vidas.

Esquecemos que viver é perigoso,  que os seres humanos são frágeis criaturas que pensam e sentem, mas geralmente de modo embotado, limitado e dependente. De alguma forma, todos têm uma noção de perigo e alguns até gostam de viver perigosamente enfrentando (autossuperação) e tentando vencer os limites impostos pelas regras irracionais do universo físico – altitude, frio intenso ou calor exagerado, mares bravios, lugares selvagens, ondas gigantescas, mares profundos, florestas, desertos, etc.

A questão de vida ou morte não existe no plano da fisicalidade natural, pois este é um ponto de vista humano. Na natureza, como diria Lavoisier, “nada se perde, nada se cria, tudo se transforma”. Isto acontece com os nossos corpos, já que durante toda a vida ingerimos e expelimos energia, até que um dia um “buraco negro” nos absorve integralmente.

Baixando um pouco o nível, as questões existenciais dos protagonistas do escândalo da Petrobrás, envolvendo desvio de bilhões da maior empresa brasileira, políticos inescrupulosos e empresários gananciosos, são bem diferentes das dos mortais comuns: agora que foram flagrados – contribuindo para desequilibrar ainda mais os chamados poderes instituídos, incluindo aí, principalmente, a figura da presidente Dilma Rousseff. Eles, empoderados com fortunas roubadas do povo brasileiro, saíram ou foram tirados das tocas onde se escondiam. Desculpem, os grandes problemas existenciais desses caras era como disfarçar, ocultar, dissimular, manter a cara envernizada, para não serem pegos pelos seus crimes, que deveriam ser considerados hediondos, pelas consequências nefastas que acarretam à população.

Guardo comigo a relação dos figuraços apontados como participantes da Operação Lava Jato, a fim de manter o mínimo de memória, porque vergonha é uma coisa que raros políticos têm, já que aqueles que se locupletam dos cargos que ocupam vendendo a alma ao demônio são, no mínimo, sociopatas, para não chamá-los de psicopatas, já que possuem uma das categorias clínicas desse tipo de enfermos mentais: a insensibilidade com o sofrimento alheio. Alguns agora, no papel de delatores, se mostram como pecadores arrependidos, mas nem tanto.

Então, em face desse contraste entre os vastos fenômenos cósmicos comparados com a vida humana aqui na Terra, para não nos sentirmos tão insignificantes e deprimidos, deveríamos fazer um esforço para reinventar nossas vidas, porque o tempo é implacável, assim como os buracos negros. (C.R.)

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.