“ESTÁ ME OLHANDO POR QUÊ? EU SOU NORMAL!”

Ninguém sabe exatamente o que é ser normal. Embora os seres humanos tenham características universais, cada pessoa é única em sua existência biopsíquica. Basta observar nas ruas os seres humanos para notar como diferem uns dos outros. Já viu um cara com o corpo totalmente tatuado, outro com os cabelos feitos de tranças com fios multicoloridos e alguém que se vê como estranho a si mesmo?

E pessoas depressivas que acham que precisam ser hostis contra si mesmas? E pessoas que se isolam do contato humano como maneira de de evitar o perigo de expressar amor ou ódio? E os nóias para os outros estão sempre de olhos neles? E ainda nem falamos dos psicopatas que são personalidades extremamente perigosas.

O conceito entre normalidade e patologia como poderia ser aplicado, por exemplo, em um Van Gog. Ele era simplesmente um louco ou um artista genial? Como explicar que uma criança seja capaz de fazer cálculos metemáticos avançados ou compor músicas como se fosse um compositor virtuoso? Como se explica que um homem a quem falta metade do cérebro ser capaz de interpretar ao piano uma composição que ouve apenas uma vez? É normal consumir drogas? E não consumir? As pessoas que ficam peladas e saem às ruas são normais? Por que podem ser detidas por “atentado pudor”, se o estado de nudez é natural. Numa tribo indígena é normal andar pelado?

“Está me olhando por quê? Eu sou normal!”. Este era o bordão repetido pelo excelente ator e humorista Francisco Milani (1936-2005) que trabalhava na TV Globo e interpretava um personagem engraçadíssimo no programa “Viva o Gordo”. Ele dizia as coisas mais absurdas como se fossem normais.

Ao entrar numa alfaiataria pede: “Eu quero um paletó com as costas na frente.”

“Como assim?, indaga atônito o profissional da tesoura.

“É isso mesmo, quero dar a impressão, quando entrar em algum lugar, que as pessoas pensam que estou indo embora.”

O conceito de normalidade é uma criação convencionada gerada por instituições como Igreja, Estado, escolas e até mesmo a ciência, que precisa utilizar padrões para orientar sua atuação. Roubar ou matar não podem ser consideradas atitudes dentro das normas estabelecidas, no entanto… É normal ser bom e rui ser mau, no entanto… É normal ser pobre? E ser rico? Ser bonito é normal? E feio? É mais normal ser alegre do que triste? Ser responsável é normal? E irresponsável? Ser normal faz bem à saúde? E ser pirado? Não consumir droga é normal? E consumir? Ser justo é normal? E ser injusto? Ser verdadeiro é normal? E ser falso? Ser inteligente é normal? E ser ignorante? Ser amigo é normal? E ser inimigo? É normal ser político e empresário corruptos que  lesam o povo? No entanto…

E aí você se conhece? Epa! Quis dizer, você me conhece? Então, responda:

É normal pedir uma pizza de casca de abacate,  frita em manteiga de garrafa,  com pimenta malagueta, sashimi de salmão defumado, com molho de Coca Cola batido com rúcula, coberta com delicadas fatias de maçã da Branca de Neve?

 

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.