OPINIÃO DE VITRINE ONLINE – A VERDADE NÃO ENTRA EM OUVIDOS MOUCOS

Ao “decretar” uma “lei da mordaça” no dia 9 de março, por meio de um comunicado interno, a prefeitura de Ibiúna, provavelmente sem avaliar amplamente as consequências, pôs um borrão sobre uma imagem deformada. E marcou a atual administração como aquela que pretendeu construir salvaguardas por meio da imposição da censura. E, aparentemente, nada aconteceu a fim de que esse lamentável fato retrocedesse, por um ato de humildade ou de reconhecimento de um fora palmar, que tem a assinatura de um advogado, entre três outros signatários.

Nem o contundente manifesto da Ordem dos Advogados do Brasil – seção Ibiúna, as manifestações da imprensa atenta, nem as palavras de um advogado vereador apontando a inconstitucionalidade da medida, e tampouco a repercussão no meio da sociedade. Nada disso mudou a decisão municipal. Os reflexos dessa medida estão em curso, sob o império da opacidade.

É como se nada reprovável  tivesse ocorrido sob o céu do outono, além da aposta de que o tempo se encarregará de apagar nossa memória de algo tão estranho e inapropriado. Parece que a verdade não entra mesmo em ouvidos moucos. Como se fosse possível governar subestimando a inteligência da população. Aliás, pelas notícias divulgadas na grande imprensa, ora num ora noutro dos 5.570 municípios brasileiros, verifica-se a falta de pudor no trato das coisas públicas.

Ainda ontem (31), a presidente Dilma Rousseff,  sabendo do seu prestígio público em queda, alvo de fortes críticas vindas de muitas direções, mesmo assim defendeu a liberdade de expressão como sagrado direito que é um dos mais importantes sustentáculos do regime democrático. Trata-se da mesma liberdade que pode contribuir para dissipar, no transcorrer do tempo, uma densa nuvem de ignorância ainda persistente em largas camadas da população, até mesmo por falta da educação que os governos sonegam, sob pretexto oculto de que é mais fácil e seguro governar um povo mantido na ignobilidade.

É presumível que devemos ser responsáveis pelos nossos pensamentos e atos concretos e que devemos responder por eles, pelo bem ou o mal que fazemos para tirar proveito dos outros. Não importam os meios, como diriam os maquiavélicos que aprenderam a arte da política pela rama comezinha do egoísmo e da ambição, com o propósito de acumular riqueza com atos que, facilmente, sucumbem à luz solar, já que vicejam em cenários sombrios

É fato que estamos vivendo um novo tempo em que as informações circulam numa velocidade rápida e incrível. Ou seja a sociedade, mesmo em lugares mais modestos, está cada vez mais bem-informada e revelando um senso crítico jamais visto antes. Os políticos inescrupulosos que ponham as barbas de molho. Ainda terão de quem comprar votos, mas essa facilitação está com seus dias contatos e provoca náuseas entre as pessoas mais esclarecidas e éticas.

Bem, se tudo continuar como está, teremos, nós, jornalistas, que descrever e tentar interpretar uma trajetória tão melancólica quanto medíocre politicamente falando e até mesmo poderemos constatar na prática percepções sensíveis de que quem está no comando do jogo talvez não disponha de nenhum cacife real.

Resta, enfim, a esperança de que em outubro de 2016 os ibiunenses sejam mais felizes em suas escolhas eleitorais.

 

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.