LEITURA FIM DE SEMANA – HISTÓRIAS DE AMOR E DE TRAIÇÃO

Aconteceu agora, na quinta-feira. A mulher leva o marido até um prédio no bairro das Perdizes, em São Paulo, onde estaria um zelador que vinha “mexendo” com ela, toda vez que passava pela calçada em direção ao trabalho. Chegaram de moto estacionada a certa distância, o marido foi tomar satisfação. Recebeu quatro tiros e morreu no hospital. Chocado, o pai do rapaz levantou a suspeita de que a nora teria levado o filho a uma emboscada.

Ela, que nunca demonstrava carinho pelo marido, que era todo amoroso, que, na realidade trabalhava a cinco quilômetros dali e que nem precisava passar diante da portaria do prédio de classe média, disse o pai na TV. O assassino fugiu de carro e ainda que não se possa prejulgar a mulher sem que os fatos sejam esclarecidos, trata-se de uma história triste. Já levar seu companheiro para enfrentar o cara que lhe viria dando “cantadas” há meses é um caso para se pensar… O pai quer a verdade e a Justiça.

Outro casal, em outro lugar bem distante, acaba de “fazer” [argh!] amor e relaxa na cama, felizes. Viam noticiário na televisão, até que a notícia era exatamente do crime ocorrido em São Paulo. A mulher tomou a iniciativa: “Como fazer uma coisa como essa levar o marido para tomar satisfação com um sedutor vulgar. Isso é coisa do século passado, quando a honra sexual era uma questão de vida ou morte. Quanta besteira, hoje em dia isso já não deveria mais existir.”

O namorado: “Tem razão. Mas, vamos supor que os argumentos do pai seja uma pista que a polícia deverá seguir e que venham a ser confirmados. Que loucura, não? Por que agir assim de modo tão frio, se foi o caso? Lembra daquela loira que fez picadinho do marido, diretor de uma empresa de alimentos, colocou seu corpo numa mala e o espalhou em Cotia?

A partir desse ponto a conversa tomou o caminho da filosofia existencial e relacional. “Por que mulheres e homens traem seus parceiros? A gente sabe que as relações entre pessoas são complicadas e que a mente humana é a maior caixa de mistérios que existe e uma fabrica que trabalha continuamente para produzir máscaras falsas e enganosas. Por que a pessoa não diz à outra simplesmente: ‘Olha, não me sinto bem com você, nem de dia, nem de noite, por isso acho bom a gente se separar’. Trair a ponto de provocar uma morte é uma merda!”

A namorada: “Eu sou feliz com você, gosto do seu rosto, do seu corpo, do seu cheiro, do seu jeito de amar, calmo-tranquilo-intenso e sempre me sinto completa e bem resolvida. Por isso, acho que você não correrá perigo algum comigo. Mas acho que existem muitas mulheres infelizes no casamento e que não sabem como lidar com a situação da química do seu corpo contrariada. E, infelizmente, há maridos que também não percebem a realidade dissimulada pela mulher, ou, vice-versa, a mulher não percebe os truques do marido traidor.

O namorado: “Dizem que uma das principais causas da degradação das relações entre um homem e uma mulher, casados ou não, reside nas dificuldades financeiras, mas nesse aspecto sou mais o Nelson Rodrigues, no fundo, no fundo, é sempre a história de amor sexual malresolvido, embora haja exceções.”

A namorada: “Amor, vamos deixar essa história pra lá? Vem que vou lhe contar uma história – olha que isso é um privilégio – de como se deve amar uma mulher. Depois, você me conta como uma mulher deve amar um homem. Assim, a gente será capaz de evitar a mesmice, o tédio, e sempre inventar uma coisa nova para fazermos juntos. O que você acha?”

O namorado: “Você é todas as mulheres do mundo. Ligaram o som com baladas românticas e começaram a dançar.(C.R.)

 

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.