EXPLOSÃO EMOCIONAL – QUANDO O FURACÃO OCORRE DENTRO DA CABEÇA DAS PESSOAS

O descontrole emocional repentino é uma perigosa fonte de conflitos nas relações interpessoais – às vezes com resultados dramáticos e até mesmo trágicos. A famosa sugestão de “contar até dez” diz respeito a dar um tempo para que a pessoa não perca a cabeça e, assim, consiga não ser tragado pelo furacão que acontece na mente humana em situações imprevisíveis. O vilão da história, no caso, é a perda de capacidade de raciocinar claramente sobre o que está acontecendo.

Isso acontece com grande freqüência onde há pessoas próximas umas das outras em relação. Um dado da psicologia não é muito tranqüilizador: a maior parte das atividades mentais é desconhecida pela própria pessoa ou, numa palavra técnica, ocorrem no inconsciente, que as pessoas não percebem. Numa explosão emocional, de acordo com a psicóloga Fela Moscovici, há uma onda descontrolada que “atinge todo o organismo” de modo instantâneo. Nesse momento, o pior pode acontecer.

“O indivíduo perde sua capacidade de autodeterminação devido à emoção intensa e de caráter agudo ou inconsciente”, argumentam alguns juristas. Esse fato é tão significativo que o Código Penal Brasileiro prevê atenuação de pena, quando comete um ato “sob influência de violenta emoção, provocada por ato injusto da vítima”. Em termos simples, é como se a pessoa se tornasse incapaz de responder pelos seus atos por se encontrar num “estado de ira”, digamos, passional.

Se deixarmos nossa imaginação livre, podemos admitir que nessa situação os seres humanos parecem não somente perder a razão [a capacidade de pensar com clareza e equilíbrio], mas se comportam como os animais, exatamente por esses não serem dotados da razão, a principal característica própria do homem.

Se no período mais remoto da vida de um homem, quando é criança e sua personalidade está em formação, ele se acostumou a sentir raiva quando contrariado, ele pode se comportar com agressividade para obter o que quer “sem a menor consideração com as outras pessoas”.

Como a maioria das pessoas não recebe educação emocional – exatamente para se preparar para agir de modo equilibrado diante das provocações inevitáveis da vida – se sujeita diariamente a viver perigosamente. Moscovici entende as pessoas precisam descobrir um modo de ser holístico, em que possa haver um equilíbrio entre as quatro dimensões humanas que preconiza: física, mental, emocional e espiritual. Ou, de modo mais memorável, entre razão e emoção. (C.R.)

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.