Preconceito, a insensatez nas relações humanas

Ok. Quando você concluir esta leitura, o mundo continuará sendo habitado por preconceitos e preconceituosos, mas você terá uma nova visão sobre a insensatez e a ignorância que intermedeiam as relações humanas.

Tirantes umas poucas frases hilárias – como a do humorista norte-americano W.C. Fields: “Sou livre de qualquer preconceito. Odeio todo mundo, indistintamente” – a maioria absoluta das manifestações em torno do tema apresenta variadas formas de indignação.

O físico Albert Einstein foi categórico: “É mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito.” O poeta e cantor Bob Marley denunciou: “Enquanto a cor da pele for mais importante que o brilho dos olhos, haverá guerra.” Nicolau Maquiavel, um dos príncipes da teoria política, foi direto e sintético: “Os preconceitos têm mais raízes do que os princípios.”

O ator brasileiro Paulo Autran interpretou: “Todo preconceito é fruto da burrice e da ignorância.” Machado de Assis escreveu: “O medo é um preconceito dos nervos. E um preconceito desfaz-se – basta a simples reflexão.” O escritor francês François-Marie Arouet, o Voltaire, não deixou por menos: “Os preconceitos são a razão dos imbecis.”

Atitude, idéia ou sentimento, especialmente de natureza hostil contra um indivíduo ou grupos humanos com características semelhantes, o preconceito não é algo que nasce com a pessoa, mas é resultado de imposição cultural. Sua expressão por parte dos indivíduos é tão irracional quanto inconsciente.

A cultura do preconceito é repassada pela família, escola, religiões, meios de comunicação, entre outras organizações sociais, inspirada pelo desejo do poder subjugar e manter sob controle os homens ou mesmo a natureza.

O psicólogo José Leon Crochik [autor do livro Preconceito – Indivíduo e Cultura, Robe Editorial, 1995] sugere que o preconceito é gerado no processo que leva o individuo a “se adaptar à cultura” e é constituído por “opiniões, julgamento e valores que servem a interesses em geral inconscientes”. Assim, o preconceito seria uma “desrazão” ou mesmo desumanização.

Se o preconceito não é inato, o autor sustenta que uma criança naturalmente percebe o outro diferente dele, “mas isso não impede o seu relacionamento com ele”. Mas, como o preconceito é inculcado na mente dos indivíduos em forma de cultura, a partir daí as diferenças podem se tornar intoleráveis, perigosas e até mortais.

Crochik entende que “a revolução capaz de extinguir o preconceito” reside na possibilidade “da autonomia da razão”, da libertação interior dos homens.

Por outras palavras, preconceito se combate por meio da aquisição do conhecimento que dissolve o véu da ignorância que encobre a possibilidade da libertação da mente de estereótipos que se introduzem de modo sutil e gradativo na vida das pessoas. Quando os homens se percebem diferentes e separados e se estranham entre si, parece que se estabelece a barbárie em suas relações.

Em sociedade antigas, em que os homens viviam em forma comunitária, sem que houvesse a necessidade, imposta pelo sistema capitalismo, de se valorizar a realização livre e ilimitada dos indivíduos, é provável que a pressuposição não fizesse sentido, porque todos se viam como “iguais”. O preconceito surge quando os indivíduos [vendo-se separados uns dos outros] apoiam-se numa realidade artificial, que desumaniza as relações em benefício próprio. Os outros são simplesmente excluídos de sua fronteira como competidores, prejudiciais ou inimigos. Preconceito se alimenta da ignorância e da falsidade, sobretudo porque os indivíduos são incapazes de pensar e agir de modo humanamente razoável.  (C.R.)

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.