CARLOS ROSSINI ESCREVE – OUVI QUE OS IBIUNENSES SÃO UM POVO TRANQUILO E PACATO

NOVO DRAGÃOEra uma vez um sábio que foi consultado por um homem que pretendia atravessar um lugar coberto por uma exuberante vegetação que oscilava para cima e para baixo acompanhando uma topografia montanhosa, rios, cachoeiras e lagos de águas transparentes. Ocorre, porém, que bem no meio do caminho que contornava uma encosta, havia uma caverna e dentro dela, um dragão, que diziam ser terrível com quem tentasse passar por ali.

Na verdade, essa história é antiga e o sábio resolveu cooperar porque o viajante tinha uma importante missão a cumprir, ainda que não a revelasse.

“Olha, meu amigo, os dragões são suscetíveis e sofrem uma profunda solidão e, por isso, precisam atacar as pessoas, porque é isso que resta às suas vidas reclusas em uma caverna escura cujas paredes vivem chamuscadas pelas chamas incendiárias que lançam pela boca.” E acrescentou:

“Em princípio, nenhum dragão é mau em si, mas, por se sentir rejeitado e temido, ele se torna uma criatura assustadora. Sabe-se que há homens que se parecem psicologicamente com o monstro do fogo. Supõe-se que são aqueles que buscam, por meio do poder maquiavélico, conquistar poder, a qualquer preço, para se sentirem importantes ou alguém digno de admiração. Mas todos acabam pagando um preço por essa desnaturação, pois vivem ocultos nas sombras, e seu jogo preferido é fazer as pessoas sentirem medo.”

O viajante ouvia com tanta atenção as palavras do sábio que foi adquirindo uma confiança nova, como nunca tinha sentido antes. “Caramba! – pensou – como é bom adquirir conhecimento. Estou me sentindo pronto para cumprir meu destino.” Antes, porém, recebeu a orientação mais importante.

“Quando estiver se aproximando da caverna, poderá ouvir estrondos ecoando de chamas sopradas no labirinto, assim como gritos irregulares em tom grave e assustador. Mas não se inquiete, mantenha-se firme. A regra a seguir é esta: “Não corra, porque o bicho ficará excitado e vai querer te pegar; também não ande devagar demais, porque ele achará que você o estará provocando; apenas caminhe a passos normais. Assim, por ser extremamente míope, o dragão não se dará conta de sua presença, quase como se você se tivesse tornado invisível para ele. E, desse modo, poderá seguir em busca de seu objetivo.”

O viajante mais uma vez pensou: “Acho que entendi a lição desse mestre sagaz. Na verdade, ele ensinou-me a lidar com o medo de dragões. E isso significa que o perigo real não está no dragão, mas em mim e no modo como encaro a situação. Às vezes os dragões não passam de criaturas menores diante de uma força maior que diminua sua proporção imaginária.”

E, assim, depois de reverenciar o sábio, que se volatilizou no ar, pegou sua mochila com suprimentos, cantil de água, um cajado e partiu para sua jornada. Lembrei dessa história quando ouvi alguém dizer que os ibiunenses são um povo tranquilo e pacato. Penso muito nisso.

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Carlos Rossini e jornalista e editor de vitrine online

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.