“A VERDADE É UMA ÁRVORE QUE PROCURAMOS VERGAR PARA O NOSSO LADO.”

carlãoOntem (4) à noite depois que apresentei o programa “O repórter da cidade”, na TV Ibiúna, tendo como convidados os mais polêmicos ativistas nas redes sociais de Ibiúna – Carlos Pires Sobrinho (Carlão da Náutica), Carlos Pissarro, Donizeti Sandroni, Danilo Broll e Marcelo Barbagallo –, já em casa e sereno, uma frase apareceu em minha tela mental: “A verdade é uma árvore que procuramos vergar para o nosso lado.”

Surgiu de repente, de modo espontâneo e logo anotei no papel para não perdê-la na memória. Não daria aqui para resumir um programa de mais de uma hora de modo abrangente, sobretudo considerando que eram cinco pessoas a responder perguntas, a fazer comentários, todas com vontade de falar, sobrepondo vozes e risos ocasionais, o que é muito saudável, quando se conversa de modo fraternal.  Mas, talvez seja oportuno relembrar as respostas à primeira pergunta que fiz a eles: “O que mais incomoda vocês em Ibiúna?”

Carlão da Náutica: “A falta de informação com o que fazem com o dinheiro da população.”

Sandroni: “O sofrimento da população e a falta de transparência dos governantes.”

Pissarro: “O pouco caso dos governantes em relação aos problemas reais da população.”

Marcelo: “A politiquice que faz um prefeito intimidar vereadores, mesmo  sendo o  Legislativo soberano e autônomo.”

Danilo: “A falta de estrutura e de visão gerenciais. Ibiúna era para ser bela, arrumada e com melhor qualidade de vida, principalmente para as crianças e idosos.”

Claro, disseram muito mais. Que deve ser introduzido no ensino municipal curso de educação política para as crianças, de modo que, quando tiverem mais idade, possam exercer sua cidadania em plenitude. Que os eleitores não devem vender seu voto ou trocá-lo por uma cesta básica ou medicamentos. Que novas lideranças políticas sejam eleitas pela população, dando oportunidade a pessoas não contaminadas pelas trapaças políticas. Que não mais prejudiquem a saúde e o estudo das crianças fornecendo merenda escolar nutricionalmente pobre em qualidade e quantidade. Que haja um atendimento médico-hospitalar humano e eficiente. Que as escolas não permaneçam abandonadas, com falta de água, de material de limpeza e higiene. Que melhorem o serviço de transporte público e as estradas. Que parem de fazer contratos emergenciais suspeitos [como o famigerado caso da merenda que provocou a criação de uma CPI para apurar possíveis irregularidades] e o de transporte de pacientes. Que as autoridades do Executivo e do Legislativo se reúnam e honestamente procurem encontrar soluções na forma de uma união de esforços. Que haja transparência nos atos do Executivo perante a opinião pública e o respeito ao direito à informação dos munícipes. Que cessem procedimentos retaliadores (vingativos) contra pessoas que manifestam sua opinião, assim como perseguições e ameaças a servidores públicos e seus parentes. Que se promova um processo de conscientização que contribua para o engajamento da população em medidas que possam contribuir com o progresso da cidade, proteção do meio ambiente e a qualidade de vida em todas as faixas etárias.

Por fim, que não sejam vistos como iconoclastas (destruidores de imagem de pessoas) e sim como pessoas que amam a cidade, que aqui residem com suas famílias e que agem como agem porque querem contribuir para o bem-estar de todos e uma vida melhor e, por isso, mostram as coisas erradas para que sejam corrigidas e apontam caminhos para a solução dos problemas.

Isso tudo passa, certamente, pela construção de uma nova e purificadora mentalidade política, administrativa, moral, que precisa ser compartilhada com a população, pois esta é, afinal, a razão de ser de uma cidade.

O programa espera ter cumprido um objetivo muito especial: provocar reflexão sobre a forma como os ativistas sociais atuam, podendo assim evoluir sobre a experiência vívida, aprimorar qualitativamente suas manifestações em suas buscas visando influenciar e conquistar pessoas.  Por essa razão, oxalá, a palavra VERDADE se ofereceu para compor o título desta matéria jornalística. Se ela for compartilhada de fato na vida real dos cidadãos, poderemos contar com a razão, o respeito mútuo e abrir um cenário de refrescante leveza, para que floresçam relacionamentos positivos e saudáveis. Trata-se de uma tarefa árdua, difícil e que exige persistência, determinação e uma força de vontade vigorosa. Mas, se essa ideia vingar como organização social, então haverá motivo para concelebrarmos em torno da mesma árvore, como faziam nossos ancestrais reunidos em  volta da luz coruscante da fogueira tribal.

carlos r.

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.