EDITORIAL – SUSPENDER ENQUETE POLÍTICA FOI PRECISO

pranchetaA plataforma da revista vitrine online permitia que se pesquisasse a opinião pública de forma simples e com resultados automáticos do próprio sistema. E diversas foram realizadas com temas gerais e deram bons resultados. Mas, há alguns anos, quando decidimos avaliar a situação do sistema de saúde de Ibiúna, apareceram claramente tentativas de fraudar o resultado.

O número de participantes terá chegado perto de quatro mil pessoas, quantidade que pode sustentar cientificamente uma pesquisa de âmbito nacional [como o fazem Data Folha e Ibope] e até desnecessário para aplicação no município de Ibiúna, considerando sua população estimada em pouco mais de 76 mil habitantes.

No andamento da coleta de opiniões, de repente, os números favoráveis à imagem do serviço de saúde ibiunense começaram a se avolumar vertiginosamente, como se alguém estivesse utilizando algum mecanismo capaz de turbinar o processo. Houve clara intenção de influir os resultados, já que a desaprovação desse serviço público era destacada maioria, até determinado ponto. Entrei em contato com a criadora do site e perguntei se havia alguma forma de impedir essa intrusão. Respondeu que não.

Resultado: tiramos o questionário do ar e suspendemos a pesquisa e, na época, demos explicação aos leitores de nossa atitude, pois, por princípio, trabalhamos para informar a verdade tanto quanto possível. O tempo passou e no dia 17 deste mês lançamos uma pesquisa, por meio de formulário para ser respondido via internet. Queríamos revelar a opinião pública sobre o desempenho do prefeito e dos quinze vereadores no ano de 2015.

Um amigo da revista, espontaneamente, fez alguns testes e nos comunicou que havia brechas para fraude. Ele criou dois ou três e-mails falsos e conseguiu votar. Avisamos a pessoa que havia montado o questionário, ela também fez o teste e confirmou que realmente poderia haver furos se nos baseássemos nesse recurso. Refez toda a caminhada e conseguiu reduzir os riscos de fraude. A partir daí refletimos sobre o contexto global da pesquisa e concluímos que não haveria de fato como impedir rigorosamente eventuais ações de má-fé.

O diagnóstico é simples: não haveria como impedir que um conceito medíocre pudesse ser obliterado e substituído majoritariamente pelo melhor conceito proposto – “Excelente”. Simples assim.

Ponderamos sobre o assunto, ouvimos e consultamos pessoas que lidam com informática e internet e concluímos que somente uma pesquisa direta feita em campo – com a prancheta tradicional ou eletrônica – poderia contornar esse obstáculo impertinente e garantir a lisura aos resultados. Isto é: refletir com fidelidade o que de fato corresponde à opinião pública do município. Por essa razão e em respeito à população a pesquisa foi suspensa.

A publicação dos resultados poderia ser contundente para alguns, mas, sem dúvida, seria valioso para que cada um deles refletisse e pudesse fazer a lição de casa recomendada pelo voto popular livre e melhorar seu desempenho em 2016.

Finalmente, é preciso realçar que a pesquisa não visava promover ofensa a quem quer que fosse. Seria uma ousada oportunidade de os munícipes, assim como o prefeito e os vereadores, participarem de um saudável exercício democrático. De qualquer forma, agradecemos a todos que já haviam respondido ao questionário, aos quais pedimos desculpas e compreensão, que estendemos a todos nossos leitores. (C.R.)

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.