OPINIÃO – CADÊ O “BRADO RETUMBANTE” DO HEROICO POVO BRASILEIRO?

bandeiraO melhor trabalho jornalístico sobre a crise político-econômica brasileira está sendo feito pela Globo News, com uma equipe de profissionais sérios e competentes. Também eles, como nós, estão perplexos com os fatos protagonizados pelo presidente da Câmara Federal, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), de modo especial, e da presidente Dilma Rousseff (PT), que faz de tudo para manter-se no poder, embora, como Cunha, fatalmente enfrentará uma tormenta decisiva, mesmo que ganhem algum tempo. Renan Calheiros (PMDB), presidente do Senado, também caminha sobre o fio da navalha.

Com a sensibilidade de poeta, em meados da década de 1910, o jornalista Joaquim Osório Duque Estrada (1870-1927) entrou em um concurso para criação da letra da música composta antes por Francisco Manuel da Silva (1795-1865). Ambas as composições tornaram-se oficialmente o Hino Nacional Brasileiro em 1922.

Que inspiração teria feito Estrada abrir com uma estrofe que parece estar presente neste momento da vida nacional, como se tivesse atravessado e ressoado ao longo do tempo para nos lembrar [de um dever?] Leia:

“Ouviram do Ipiranga as margens plácidas
De um povo heroico o brado retumbante
E o sol da liberdade, em raios fúlgidos
Brilhou no céu da pátria nesse instante”

O hino celebra a liberdade do Brasil, com a abdicação ao trono por parte de D. Pedro I, e aponta com uma curta narrativa quase cinematográfica “às margens do (rio) Ipiranga” (em São Paulo) o “brado” [grito forte e enérgico] “retumbante” [som que se espalha com barulho]. Assim, com base no desejo do povo brasileiro “o sol da liberdade…brilhou no céu da pátria”. E que fique claro: foi nesse instante [sob pressão popular] que houve uma ruptura e uma mudança, que traria a liberdade ao país.

É incrível, mas, agora, a nação está refém [prisioneira] de uma meia dúzia de pessoas encasteladas no poder no Executivo e no Legislativo. As atitudes de Cunha, com soberba, afrontam a história do Brasil, como se um parlamentar pudesse se transformar em “ditador”, acima do bem e do mal, afrontando uma governante enfraquecida pelas consequências de seus próprios atos equivocados ou ilícitos. Ambos já estão demasiadamente desmoralizados para seguirem em frente e, se valerem os vaticínios de quem enxerga a história, terão que se despojar dos cargos por não terem cumprido o que deles se esperava, tanto do ponto de vista ético quanto moral e, sobretudo, considerando o direito positivo, por supostamente terem violado as leis regidas pela Constituição Brasileira que juraram formalmente cumprir.

“Gigante pela própria natureza
És belo, és forte, impávido colosso
E o teu futuro espelha essa grandeza”

O porte do Brasil, assim vislumbrado por Estrada, que também era crítico de arte, pode se sujeitar a mesquinharias egoístas num processo [Lava Jato] que escancara cenas de corrupção realizadas às ocultas e que envolveram talvez o maior roubo de dinheiro público, desde a Independência?

A resposta será um NÃO, ainda que demore um tanto, porque é possível que as leis brasileiras sejam suficientemente cegas e complicadas, até mesmo de propósito?, para fazer com que o povo brasileiro [incluindo empresas] se afunde cada dia mais na pobreza. Mas isso não é problema para quem amealhou milhões de reais por conta de fraudes, desvios e propinagens. Prisão é o lugar de todos esses sicários, alguns dos quais, como se ouve em manifestações na TV, talvez sejam mesmo sociopatas ou psicopatas, porque parecem não ter a menor vergonha dos seus atos criminosos. (C.R.)

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.