IBIÚNA – BREVE HISTÓRIA DE UMA CIDADE QUE TIROU NOTA ZERO EM TRANSPARÊNCIA PÚBLICA

foto minha casaA pauta inicial da redação era apresentar um balanço do que foi a administração pública em Ibiúna em 2015 e as atividades políticas abrangendo o desempenho do Executivo, sintetizado na figura do prefeito Fábio Bello, e do Legislativo, representado pelos quinze vereadores. A ideia de realizar uma pesquisa via internet foi abandonada, por não haver garantias técnicas contra ações para fraudar [pelas probabilidades e experiência vivida, elas aconteceriam] o processo de coleta de dados, o que inviabilizaria obter um retrato fiel dos fatos.

No entanto, não se pode passar ao largo dos acontecimentos, sem contribuir, de alguma forma, para que a população do município reflita sobre uma condição que a afeta diretamente e a faz pagar o preço. Todavia, em nome da justeza, é preciso que se levem em conta as condições reais de fatos jurídicos e políticos que marcaram o atual mandato fatiado pelas trocas de prefeitos. Isso, porém, não isenta da responsabilidade quem ocupa cargo público, nem que seja por um breve instante, aos olhos da Lei, ainda que se sinta impossibilitado de fazer valer sua vontade.

Há notícias da vinda de cinco empresas para Ibiúna, com a aprovação do projeto municipal enviado à Câmara prevendo a doação de terrenos no que se convencionou chamar de Polo Industrial, onde existia a extinta Granja Saito, e outro no km 53,4 da rodovia Bunjiro Nakao, onde deverá se instalar uma fábrica de peças e equipamentos para veículos, que deverão gerar “mais de seiscentos empregos diretos”, segundo nota oficial publicada pela prefeitura.

Num município sedento de empregos, não aprovar esse iniciativa, por parte da Câmara Municipal, ou apontar a falta de iniciativas eficazes no setor de turismo [somos uma estância turística?] como equívoco de coerência seria decididamente se expor aos impulsos críticos dentro da realidade vigente. Ademais, tem-se que ter paciência, porque o estudo contratado pelo Executivo para que seja traçado o Plano Diretor de Turismo, tem prazo de conclusão em fevereiro de 2016. Assim como nenhum vereador teria a ousadia de não aprovar o projeto de aumento de reajuste de 10% dos servidores municipais, cujo piso salarial passará para R$ 1.001,54, a partir de fevereiro, bem como elevar o valor da cesta básica dos atuais R$ 72,00 para R$ 144,00, e sua contrapartida de penhor,  com reajuste de 10,09% no IPTU, pois quem paga a conta são os munícipes.

A partir de agora, em suposto plano estratégico do prefeito, ele apostará todas as fichas que tiver disponíveis na maximização do desempenho do seu governo em 2016, o último do atual mandato, com evidentes objetivos de natureza política, pois no dia 2 de outubro haverá eleição para prefeito e vereadores. Licitações estão sendo chamadas, haverá entrada de recursos de emendas parlamentares, com o propósito de fechar o ano [2016] com “chave de ouro”, segundo chavão publicado por um jornal local em entrevista com o prefeito, que provocou comentários irônicos nas redes sociais. É esperar para ver e torcer para que realize de fato um bom trabalho em prol dos munícipes, sobretudo dos mais carentes.

Então, estamos diante de mais uma promessa e da esperança que podemos crer, mais uns e menos outros, no estilo político de tender a criar impactos em momentos decisivos, e não antes, de Fábio Bello.

Mas o que dizer de 2015? Algumas ruas urbanas pintadas, alguns recapeamentos, instalações dos primeiros semáforos e agora abrigos de ônibus. É preciso considerar que o governo atual não é transparente. Tirou nota zero na última edição da Escala Brasil Transparência, problema que vitrine online já vinha apontando vendo, enfim, confirmada sua postura. Ainda que se utilize abundantemente da mídia de sua confiança e do veículo de informações do Imprensa Oficial para mostrar movimentos de máquinas em estradas municipais, pois procura inculcar efeitos com imagens visuais, utilizando uma retórica superficial para atingir a população, cuja maioria vive na área rural, aparentemente não há como ignorar a insatisfação em expressivos segmentos da população, sobretudo na área urbana.

Os problemas na saúde continuam, assim como nas estradas, no transporte público e a população – vitrine online ouviu munícipes informalmente – manifesta o sentimento de que “o município está parado”, refletindo um 2015 inexpressivo do ponto de vista administrativo e nulo em ações que poderiam ser tomadas na área de turismo [as obras da ciclovia pararam de vez, para citar o caso mais gritante]. E não pode deixar de ser mencionado o sério problema da contratação emergencial de uma empresa, comprometida publicamente por falta de lisura, para fornecer merenda às escolas e creches da rede municipal e que, por irregularidades [seu proprietário foi preso], motivou a criação de uma CPI da Merenda Escolar, relativas aos preços cobrados, à baixa qualidade nutritiva e quantidade de alimentos fornecida às crianças.

Ainda que a prefeitura alegue que o problema tenha sido resolvido com a rescisão do contrato com a firma fornecedora – SP Alimentos -, há uma grave questão de responsabilidade pública a ser apurada e punida, dependendo das provas a serem colhidas nos depoimentos das testemunhas e documentais. O vereador-relator da CPI anunciou publicamente que, pelos dados já disponibilizados pela prefeitura, há fundamentos para propor uma Ação Civil junto ao Ministério Público e que o fará.

Também faltaram, aparentemente, iniciativa vigorosa do Executivo na defesa da duplicação da rodovia Bunjiro Nakao [que até agora é só promessa do governo estadual], que tem tirado muitas vidas, com suas curvas traiçoeiras, e uma postura explícita e contrária em relação ao projeto da Votorantim Cimentos cuja pretensão de explorar os recursos minerais no varjão ao lado da cidade – areia e argila –pode causar mais um grave problema no meio ambiente de um município, que supostamente deveria produzir riquezas também com o turismo e, portanto, assegurar as condições intocadas na natureza.

Lembremo-nos do desmatamento ilegal feito em novembro de 2013 [governo Fábio Bello], na calada da noite, de 135 mil m2 de uma floresta de nativa da mata atlântica, que provocou morte de animais silvestres, na altura do km 67 da rodovia Bunjiro Nakao, que continua uma ferida aberta no cenário natural do município e nos processos que se encontram em uma das salas do Ministério Público no Fórum de Ibiúna.

Queixas na área da saúde, sobretudo exigindo mandados de segurança para obtenção de medicamentos nos prazos necessários, reclamações com falta de atendimento aos munícipes, por parte do prefeito, e até mesmo a vereadores da ala oposicionista, promessas feitas e não cumpridas, reclamações vistas nas redes sociais de obras de má qualidade ou incompletas em estradas municipais, sobretudo de terra, fazem parte da composição do cenário vivido neste ano que se aproxima de seu término.

Parece inevitável evocar metaforicamente a sensação de que estamos dentro de um circo assistindo a uma apresentação medíocre, mas que nos hipnotiza por falta de espetáculos melhores que somente a alguns é dado perceber, porque conseguem tirar a cabeça debaixo da lona e observar o mundo exterior, em que o circo está em função, e nós sentados nas arquibancadas e admirados ou não, mas alheios ao mundo real que não conseguimos enxergar.

Sim, tenhamos esperança de que 2016 será melhor, que as autoridades municipais despertem e se desprendam de seus vícios dos quais são reféns, consciente ou inconscientemente, e se libertem de um modo de ver e de se comportar obsoleto.

É preciso saber que podemos igualmente mudar nossas condutas, agindo com mais confiança e coragem em nós mesmos, romper as máscaras que utilizamos para nos proteger dos fantasmas criados pela nossa própria imaginação descuidada de que os poderosos são impecáveis [veja os péssimos exemplos do governo federal e do Congresso brasileiro].

Em 2016, haverá um dia em que você, leitor, e você leitora poderão testar que podem agir de modo diferente e mudar a história com o seu voto. Façam valer os seus sonhos, sua vontade e seu poder de cidadãos responsáveis e conscientes. Juntem-se à possibilidade de se reeducarem politicamente em Ibiúna e assegurar espaços para que os bons políticos tenham oportunidade de atuar no lugar dos maus. E saibam que são vocês que dão poder ao prefeito e aos vereadores de representá-los. Esse poder lhes pertence e eles estão ou deveriam estar a seu serviço e não o contrário.  (C.R.)

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Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.