FELIZ NATAL, MESMO QUE O MUNDO ÀS VEZES LHE PAREÇA ABSURDO

palido ponto azulTodos os sete bilhões de seres humanos, exceto aqueles que se encontram em alguma estação orbital, girando em torno da Terra, vão passar o Natal no pequenino ponto que pode ser visto nessa foto. É uma foto real do nosso Planeta visto no Cosmos, iluminado pela luz do Sul. É aí que estamos, solitários como o nosso lar numa beiradinha da Via Láctea. Bem, é melhor deixar isso de lado, já que o objetivo é compartilhar uma mensagem de Natal.

Caminhava por uma das estradas de Ibiúna, bem rente ao mato, curtindo o silêncio, a dança das folhas das árvores, vendo um pássaro em voo aqui outro acolá, sentindo-me em paz, seja por que as endorfinas estavam sendo liberadas em meu cérebro ou por que a cada passo mais me sentia absorvido pela natureza esplêndida que recendia no ar um suave perfume.

De repente, lembrei-me do Natal, essa festa bela pela vibração do sentimento de amor que provoca nas pessoas e de      fraternidade, um anelo universal. Vejo o povo de Ibiúna e de todo o Planeta com carinho e respeito e até mesmo com compaixão, quando o enxergo em suas virtudes humanas, fragilidades e atitudes.

Esse filósofo dentro de mim é também um poeta de versos prosaicos, movido a clarões de luz inesperados na maior parte das vezes. Que acredita na força do presente, o tempo de todas as possibilidades. Que se nutre da esperança de um futuro melhor, como você, pela via de novos conhecimentos, com uma inesgotável fé na força da vida por si mesma, e no reconhecimento do princípio eternidade em constante mudança, sendo tudo impermanente.

O calor da caminhada sob o sol da manhã, a brisa que sopra e massageia o meu rosto, os pensamentos voando como borboletas em meu cérebro, cada vez mais céleres… Eis que, súbito, aparece um torvelinho, que ergue um pouco da poeira que descansava no chão. Dentro dele brota uma luz intensa… Imediatamente penso estar tendo uma espécie de delírio, pois estou girando e suspenso no ar, independentemente de minha volição. No ar há uma explosão silenciosa de cores e formas bailarinas. Uma trilha se abre à minha frente e, já no chão, sinto que devo segui-la inapelavelmente, com a nítida sensação de que cumpro um ordenamento.

Chego a uma pequena clareira não muito distante da estrada no centro da qual há uma pedra redonda, como uma mandala desenhada, que pulsa como se fosse um coração humano e do qual emanam átomos dançantes que formam palavras e frases, como se alguém estivesse compondo um texto no teclado do computador.

[Nesse momento, já havia esquecido de mim, literalmente, perdido a identidade, meu “eu” estava dissolvido e tudo se transformara em uma única forma que girava vertiginosamente, em sentido espiralado e harmonioso. Estava fora do tempo e do espaço. Então, será que estou no céu? Cadê todo mundo? Mas não havia sentido algum nessas perguntas.]

As palavras começaram a se juntar e, acreditem, a primeira frase, via nitidamente, era um prosaico “FELIZ NATAL!”. E a sequência era tão simples quanto a abertura. “Diga a todo o mundo que sabemos a situação da Terra, a vida dos humanos, dos animais e dos vegetais, a loucura que virou esse maravilhoso ponto azul pálido, uma poeirinha da Via Láctea tão cheio de vida.”

O aniversariante está triste também, sente as dores dos viventes, mas não perde a fé e tem uma mensagem para todos: “Vou, mais uma vez, ficar feliz por se lembrarem de mim e de celebrar meu nascimento. Gostaria muito que todos fizessem um pequeno esforço que seria o melhor presente para mim. Que, mesmo que seja por um instante, purifiquem suas mentes, removam todas as sujeiras que estão acumuladas dentro de vocês e, assim,  experimentem a verdadeira paz e o verdadeiro amor, que é estar leve e limpo no coração e na mente. Isso é tudo que peço humildemente. E assim possam tomar uma taça de vinho ou de água em Meu nome.”

“Livrem-se dos preconceitos, da inveja, do ódio, da ganância, das mentiras, dos pensamentos ruins e negativos e assim comemorarei junto com vocês minha data natalícia. Com o verdadeiro amor. Feliz Natal a todos os que creem e os que não creem porque é longo o caminho para transpor a ignorância e alcançar a verdadeira sabedoria, que precisa ser sentida, saboreada para fazer parte de sua existência.”

Repentinamente, todo aquele sublime momento se dissipou e me vi caído no chão como se tivesse despertando de um sonho. Ainda sentindo meus olhos faiscarem e meus ouvidos zumbindo intensamente, respirei fundo e retornei ao mundo habitual. Voltei para a estrada onde não havia ninguém. Estava tudo como antes, como se nada tivesse acontecido.

Retornei para casa como se fosse um estrangeiro ou viajante no tempo. Sentei-me junto ao computador e resolvi compartilhar essa história que ofereço como presente de Natal para você que está lendo e que eu bem sei que está aí. Mesmo que o mundo seja estonteante e um lugar muitas vezes absurdo, Feliz Natal!

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.