CRIME EM IBIÚNA – DEPOIS DE VIVER UM MÊS ESCONDIDO NA MATA, AUTOR DE HOMICÍDIO SE ENTREGA À POLÍCIA

cleber

Trinta e três dias depois de ter assassinado um homem com dois tiros de revólver no interior de um salão de beleza no centro de Ibiúna, Cleber José da Conceição, 36, se entregou ontem (14), às 15 horas, na Delegacia de Polícia de Ibiúna, acompanhado por seu advogado Rodrigo de Lima, também vereador no município.

Durante esse período ele viveu foragido em Juquitiba, nas matas da reserva de Jurupará, e teria sobrevivido alimentando-se de palmito, bananas, raízes e pequenos peixes crus que pescava com um anzol improvisado de um pedaço de arame. Segundo declarou à policia, ele dormia dentro de um forno de carvão desativado. “Vivi como bicho”, teria dito.

Cleber não teria se entregado antes porque temia ser maltratado mas, depois de ser convencido por Lima, que negociou a apresentação do seu cliente com as autoridades policiais, resolveu retornar a Ibiúna [barbudo e cabeludo]. Caminhou durante dois dias, sempre à noite, até chegar à casa de sua avó no bairro do Paiol Grande, onde havia escondido sua moto logo após ter cometido o crime e fugido. A arma que usou teria jogado fora.

O assassinato ocorreu no dia 13 de dezembro, às 13h45, um domingo ensolarado. Cleber invade um salão de beleza no centro da cidade dispara dois tiros no peito de Rodrigo Antonio Fulini, pai de uma menina de seis anos e morador em Sorocaba. O homicídio ocorreu no Salão de Beleza Fafa, localizado na rua Coronel Salvador Rolim de Freitas, 52, a cerca de trinta metros da Igreja Matriz de Ibiúna.

Há aproximadamente um ano, Helena Kato, 37, mãe de três filhos de um casamento desfeito, e uma das proprietárias do salão, rompeu um novo relacionamento de dez anos com o serralheiro Cleber José da Conceição, 37, que não aceitou a separação. “Ele era muito possessivo e ciumento e não podia me ver falando com ninguém”, declarou Helena ao policial que fez o boletim de ocorrência.

Na sexta-feira (11), Cleber, então morador na rua Cirineu Soares Campos, também no centro de Ibiúna ligara para a ex-namorada e disse que ela fosse à sua casa, se não, ele iria até a casa dela, no bairro Votorantim, no km 61,5 da rodovia Bunjiro Nakao. Ela resolveu ir. No encontro, Cleber insistiu: queria que Helena voltasse para ele, mas ouviu que tudo havia acabado, “que não dava mais”.

Há oito meses, Helena havia conhecido pela Internet Rodrigo Antonio Fulini. Tiveram o primeiro encontro e começaram a namorar. “Ele era carinhoso, amoroso, cuidador [tratava bem seus três filhos], simpático, trabalhador.” Muito diferente de Cleber. Era mecânico na Asiática, uma oficina especializada de automóveis localizada em Sorocaba. Rodrigo veio a Ibiúna em sua moto. Ambos se encontravam no fundo do salão, que tem três cômodos. Na verdade os dois estavam na parte de baixo da casa.

NOVA HELENA

De repente, ambos se assustaram com um barulho forte de vidro sendo quebrado no andar de cima que dá para a rua. Cleber havia quebrado o vidro da porta perto da maçaneta e como a chave estava fixada do lado interno, conseguiu abrir a porta facilmente. Rodrigo, então, subiu a escada para ver o que havia ocorrido e deu de frente com Cleber, assim que entrou na sala. O homicida disparou dois tiros à queima roupa no peito, sem chance alguma de defesa e Rodrigo caiu no chão morto. Helena disse à vitrine online que tentou entrar na frente do atirador para pedir que não fizesse aquilo, mas não conseguiu. Helena também poderia ter sido vitimada, mas supostamente haveria somente duas balas no revólver.

Rapidamente, Cleber, antes de fugir, ainda ameaçou Helena dizendo que se o denunciasse iria ter o mesmo destino. E fugiu, agora se sabe, em sua moto. Na saída, o barulho atraiu a atenção de um comerciante que foi ver o que estava ocorrendo. Deu de frente com Cleber que lhe teria apontado a arma e dito “Você não me viu, certo?” e subiu na moto. Na mesma tarde, Helena deu seu depoimento na Delegacia de Polícia de Ibiúna, na condição de testemunha ocular do crime. Quando foi concluído o boletim de ocorrência ela voltou a chorar, como fizera antes, sentada numa calçada próxima ao salão. A cena do rapaz caído no chão era desoladora. Fora vítima de um crime bárbaro.

Ontem mesmo, Cleber foi transferido para a cadeia de São Roque e de lá irá para o Centro de Detenção Provisória de Capela do Alto, no interior do Estado.

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.