CARRUAGEM ELEITORAL MOSTRA PAISAGENS DELIRANTES

Voto é prerrogativa do eleitor, dever e direito de escolher seus candidatos assegurados pela Constituição democrática. Portanto, escolher entre Bolsonaro ou Haddad cabe ao eleitor decidir livremente. Ninguém pode “julgar” ou agir de modo preconceituoso em relação ao voto de cada um.

Isto, no entanto, não deve cercear a liberdade de expressão, sem ofensas pessoais, naturalmente. É imperativo refletir sobre o clima reinante no Brasil, neste momento em que se aproxima a eleição, em segundo turno, depois do qual será proclamado o novo presidente da República.

Já escrevemos aqui que o país ficou transtornado nessa campanha eleitoral, como nunca se viu nessa proporção. Empregamos termos da ciência psicológica e dissemos que largas parcelas da população se comportam como criaturas temporariamente insanas, seja por posições radicais e fanáticas, seja por ódio e rancor manifestos.

As postagens no whatsapp e nas redes sociais que vimos apenas nesta quarta-feira (17) parecem suficientes para aprofundar ainda mais e utilizar um termo psiquiátrico que entendemos parece refletir uma forma de comportamento irracional extremado.

Baixarias e mentiras, ou fake news, como está na moda dizer da tecnologia digital, transbordam como um dilúvio na parafernália eletrônica disponível, lançando-nos num pântano tenebroso ou inferno dantesco. Um desembargador aposentado espalha uma advertência dramática para que Bolsonaro permaneça em casa até o dia da eleição, pois corre o risco de ser assassinado (sic). Aparece a figura do ex-presidente José Sarney (?) declarando (?) que “Bolsonaro pode ganhar, mas que não assumirá”. Terá mesmo dito isso? Haddad aparece saindo de uma Ferrari amarela e utilizando um relógio Patek Philippe que custaria mais de R$ 400 mil. Haddad em entrevista ao SBT hoje (17) negou até mesmo que tenha automóvel, que anda de bicicleta, metrô e uber. A Folha afirma que Haddad tinha vindo de carona. O relógio que estava no seu pulso era mesmo um dos mais caros do mundo? Estamos vivendo em uma era de incertezas antes inimaginável.

Outras postagens mostram pessoas feridas supostamente agredidas por correligionários de um ou de outro candidato, por estarem vestidas com uma camiseta com a estampa deste ou daquele postulante ou mesmo um simples button com a efígie de um dos dois.

Poderíamos aqui listar uma profusão de fatos, a maioria dos quais certamente falsos, como se tem verificado. O delírio eleitoral parece ter transformado o Brasil, um continente com mais de 200 milhões de almas, em uma republiqueta de bananas, como era usual rotular o país em tempos pretéritos para qualificá-lo como uma nação subdesenvolvida.

A palavra delírio vem do latim e significa “sair do trilho”. Delírio é uma ideia ou um pensamento que não corresponde à realidade. Isto mesmo: o Brasil parece estar imerso em um pesadelo delirante em que os indivíduos nem sequer imaginam que consequências tudo isso terá.

O próximo presidente do Brasil, seja quem for, terá que enfrentar uma crise tão gigantesca quanto complexa. Precisará ter uma saúde de ferro (física e mental), da união e apoio dos brasileiros, a fim de que saiamos todos do delírio e retornemos para os trilhos da sanidade social.

A imensa e notória rejeição do PT – até mesmo pessoas simples que atuam na roça não querem mais saber do PT pelos estragos que provocou no País e todas as corrosivas consequências em todas as esferas da responsabilidade pública com o povo. As pesquisas de intenção de votos e os analistas políticos deixam claro a expressividade dessa rejeição. Lula superestimou seu poder, ele também submerso em seus próprios delírios megalômanos.

Bolsonaro, gravemente ferido no abdómen, dificilmente comparecerá ao debate na TV, seja por falta de liberação médica, ainda que isso não deva ser descartado, apesar dos estrategistas saberem que quem está na frente não precisa ser expor a riscos desnecessários. Terá, portanto, dois motivos para não ir.

De acordo com as pesquisas mais recentes está nadando de braçadas enquanto Haddad tenta, certamente auxiliado por marqueteiros, desprender sua imagem da de Lula, uma providência tardia, não apenas removendo o vermelho petista de sua imagem, mas vendo com aflição a praia cada vez mais longe.

A imagem de Bolsonaro revela um ser agressivo, em palavras e gestos. Esse comportamento que gera insegurança em pessoas socialmente mais críticas é exatamente o que vem encantando expressiva massa de brasileiros que o elevaram a categoria de um ser mitológico, como o esperado Sebastião, que vem para nos salvar das terríveis mazelas sociais, que parecem nos corações e mentes sintetizadas numa palavra: “Basta!” (do PT)

Se eleito, como estão a indicar as pesquisas mais recentes, até este momento é um enigma o que fará na condição de governante. Algumas de suas falas são assustadoras. Ainda não é possível dizer se refletem apenas uma estratégia de marketing eleitoral que será diluída em atitudes práticas e objetivas racionais e adequadas às necessidades reais da nação ou se é portador de uma obsessão preocupante. (Carlos Rossini é editor de vitrine online)

 

 

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

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